Frei Fado e “O Quanto Somos Semelhantes”. Entrevista
Fomos recentemente assistir ao lançamento do último trabalho dos Frei Fado, "O Quanto Somos Semelhantes", à Casa da Música e quisemos saber um pouco mais sobre este projeto que canta poetas portugueses. «O nosso conceito musical vive claramente na esfera da World Music e é nesta componente de valorização da identidade e das especificidades culturais que mais nos identificamos. O crescente interesse pelo conhecimento do património imaterial de cada país/região favorece claramente, e de alguma forma premeia, a aposta deste tipo de projetos na música do mundo. No entanto, nestes dois últimos álbuns tentámos ir um pouco mais além, introduzindo alguns elementos sonoros mais contemporâneos, com algumas influências "pop" e mesmo algumas arquiteturas do "Jazz", procurando libertar-nos do cunho exclusivamente étnico/de raiz tradicional».
Muito obrigado por este tempo que conseguiram para dedicar aos nossos leitores. Como caracterizam o novo disco "O Quanto Somos Semelhantes"?
Este trabalho é claramente um ensaio sobre o fascínio pelas nossas semelhanças. Na nossa opinião, é um trabalho mais maduro da nossa linguagem musical, que traduz um percurso contínuo de aprendizagem, sempre procurando o equilíbrio que caracteriza a nossa identidade. É um trabalho que aborda a forma como percebemos e partilhamos formas de pensar, vivemos idênticas sensações, visitamos lugares comuns, acima de tudo, sobre "O Quanto Somos Semelhantes".
Cantar poetas portugueses é para vocês uma missão?
Está na nossa génese. Desafiamo-nos constantemente perante o grande talento dos poetas portugueses que vamos tento o privilégio de musicar, mas estamos conscientes que há ainda muito para descobrir.
O facto de trabalharem sobre textos pré-concebidos, ou seja, intocáveis do ponto de vista da métrica, condiciona muito o trabalho de composição musical?
Não vemos o processo de composição com essa rigidez! Muitas vezes são os poemas a sugerirem-nos os ambientes musicais que nos propomos a explorar, mas por outras, o processo inicia-se de forma oposta, ou seja, surge primeiro a componente instrumental e passamos a desenvolver um trabalho de pesquisa de um poema que melhor se adapte a essa ideia, isto claro, sempre dentro do conceito que estamos a explorar. Se falarmos no condicionamento, não por questões métricas mas em termos de conceito, aí sim. Pensamos que, principalmente neste trabalho, se nota claramente a influência que especialmente os textos do Valter Hugo Mãe tiveram para fazermos este ensaio sobre as nossas semelhanças.
Há algum, ou alguns poetas que gostassem de trabalhar e ainda não tenham tido oportunidade?
Assim de repente, a Sophia de Mello Breyner Andresen, que tem um trabalho excecional, assim como normalmente tentamos estar atentos a novos nomes que vão surgindo no panorama literário português.
Já estão entre nós há mais de 20 anos. Muita coisa mudou desde o vosso início? Quais as principais diferenças?
Sim. Fomos sentindo a necessidade de uma constante renovação. Fomos naturalmente abandonando algumas das influências que caracterizaram fortemente a sonoridade dos Frei Fado e introduzindo outras que nos permitiram novas formas de abordagem musical, mesmo novas formas de estar em palco. É um percurso de muita persistência, mas acima de tudo com um constante reconhecimento por parte do público, o que nos faz cada vez mais querer ser melhores.
Consideram que a valorização da world music e da música de tradição cria um ambiente mais favorável a projetos como o vosso?
O nosso conceito musical vive claramente na esfera da World Music e é nesta componente de valorização da identidade e das especificidades culturais que mais nos identificamos. O crescente interesse pelo conhecimento do património imaterial de cada país/região favorece claramente, e de alguma forma premeia, a aposta deste tipo de projetos na música do mundo. No entanto, nestes dois últimos álbuns tentámos ir um pouco mais além, introduzindo alguns elementos sonoros mais contemporâneos, com algumas influências "pop" e mesmo algumas arquiteturas do "Jazz", procurando libertar-nos do cunho exclusivamente étnico / de raiz tradicional.
No vosso percurso tiveram a oportunidade de tocar em vários concertos e festivais internacionais. Como têm sido recebidos lá fora? Este novo disco também será tocado noutros países?
A aceitação foi sempre muito boa. A experiência de estar perante públicos muito distintos tem tido um papel muito importante na forma como pensamos cada concerto. Há pouco questionava-nos sobre a nossa missão e, claramente quando estamos fora do País, sentimos que estamos a transmitir um pouco da cultura portuguesa protagonizando um canal privilegiado de transmissão dos costumes e valores que nos caracterizam enquanto Portugueses. E é incrível como tivemos a oportunidade de presenciar e conviver com pessoas que sabem muito sobre o nosso País através desta difusão cultural. Holanda, Bélgica, México, França, Brasil, Estados Unidos e Espanha fazem já parte do nosso percurso, e estamos convencidos que mais uma vez nos será dado este privilégio da internacionalização deste novo trabalho.
No espetáculo que tivemos oportunidade de assistir no Porto houve convidados. Durante os próximos concertos também tentarão reproduzir esse ambiente?
Pensamos que vai depender um pouco da disponibilidade dos envolvidos. É claro que os temas em causa vivem muito dessas prestações, são dois instrumentos com uma sonoridade muito própria e que por si só assumem um protagonismo inigualável. Vamos tentar...
Os músicos do Frei Fado têm outros projetos musicais paralelos?
Sim. Penso que o resultado é de 3 a 2. Três dos elementos apenas nos Frei Fado e dois estão envolvidos em outros projetos musicais.
Onde é que os nossos leitores vos poderão ver e ouvir em breve?
Estamos ainda a ultimar algumas datas, e penso que muito em breve poderemos já divulgar onde e quando vamos poder partilhar mais este trabalho.
Muito obrigado, mais uma vez, por terem aceitado este nosso convite. Para terminar, gostaríamos que apresentassem os músicos dos Frei Fado esclarecendo qual o papel de cada um neste projeto. Podem também falar das pessoas que mais contribuíram para que o trabalho "O Quanto Somos Semelhantes" se tornasse uma realidade.
Nós é que agradecemos! Os Frei Fado são: a Carla Lopes na voz, o Rui Tinoco no piano e programações, o Ricardo Costa na guitarra acústica, o Jorge Ribeiro no baixo acústico e o Zagalo na bateria e percussões. Salientamos o trabalho do Miguel Oliveira no design gráfico e da Anne Siri Gregersen pela foto que foi utilizada na capa do CD. E não podemos deixar de enaltecer a participação dos dois convidados neste disco: a Vanessa Pires (violoncelo) e o Agostinho Rodrigues - Tico (Guitarra Portuguesa). Antes de terminar, gostaríamos ainda de reforçar os nossos agradecimento à XpressingMusic, não só pelo facto de terem estado presentes no Concerto da Casa da Música, mas pela iniciativa desta entrevista e por todo o trabalho que têm vindo a desenvolver, que bem merece o título de "Portal do Conhecimento Musical". Um muito Obrigado!
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Fotos: Nuno Costa Cabral
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