Michael Lauren: “A música é o que eu sou, e não apenas o que faço”
Michael Lauren marcou mais uma vez presença no Dia do Ritmo em Aveiro e respondeu às nossas perguntas. O baterista foi um dos membros fundadores da Drummers Collective NYC que "foi criada em 1977. Naquela época, não havia nenhuma escola que apenas ensinasse Bateria e Percussão em Nova Iorque. A ideia era criar uma atmosfera única onde os alunos pudessem ter aulas com os melhores bateristas / percussionistas de Nova Iorque que gostassem de ensinar. A nossa missão era transmitir a informação «real», que possuíamos e de que os nossos alunos necessitavam se quisessem tornar-se bateristas de sucesso no mundo da música, altamente competitivo, de Nova Iorque. A Drummers Collective definiu o padrão para a educação da bateria em todo o mundo, e o que fazíamos passou a ser seguido em todas as escolas de bateria que abriram as suas portas após a nossa".
Muito obrigado por dar aos nossos leitores esta oportunidade de o conhecerem melhor a si e ao seu trabalho. A bateria sempre foi o seu instrumento preferido? Com que idade começou a tocar bateria?
Sim, a bateria sempre foi o meu primeiro instrumento, mas também toquei um pouco de piano, trompete, banjo e, claro, toda a família da percussão. Eu tinha 8 anos quando comecei a tocar bateria. Desde então já lá vão 57 anos a tocar. O tempo voa.
O jazz, o blues, o funk, o rock, a world music e a música clássica são abordadas pelo Michael de uma forma transversal? Pensa que deverá ser essa a abordagem de qualquer percussionista que deseje encarar a música como profissão?
As decisões sobre quais os estilos que o músico vai tocar são pessoais. Não há razão para tocar um estilo de que não se gosta. No entanto, o domínio de vários estilos permite-lhe trazer mais ritmos e abordagens rítmicas à sua performance. Mas na música, o contexto é tudo. Um baterista deve conhecer os parâmetros do estilo que está a tocar, embora as regras possam sempre ser quebradas. Vendo bem as coisas, quanto mais estilos o baterista tocar a um nível elevado, mais oportunidades de trabalho terá.
Quais as principais instituições de ensino pelas quais passou enquanto aluno?
Eu formei-me na Universidade "The Johns Hopkins". Lá fiz o Bacharelato em Artes e Estudos Humanísticos. Frequentei também o "The Peabody Conservatory" e o "Berklee College of Music".
É um dos membros fundadores da Drummers Collective NYC. Recorda-se do tempo em que surgiu esta ideia? Quais os principais objetivos que nortearam o aparecimento da Drummers Collective NYC?
A Drummers Collective foi criada em 1977. Naquela época, não havia nenhuma escola que apenas ensinasse Bateria e Percussão em Nova Iorque. A ideia era criar uma atmosfera única onde os alunos pudessem ter aulas com os melhores bateristas/percussionistas de Nova Iorque que gostassem de ensinar. A nossa missão era transmitir a informação "real", que nós sabíamos e de que os nossos alunos necessitavam se quisessem tornar-se bateristas de sucesso no mundo da música, altamente competitivo, de Nova Iorque. A Drummers Collective definiu o padrão para a educação da bateria em todo o mundo, e o que fazíamos passou a ser seguido em todas as escolas de bateria que abriram as suas portas após a nossa.
O que fez um músico com uma carreira internacional reconhecida pelos seus pares tomar a decisão de vir para Portugal?
Eu acho que foi o lugar certo, na hora certa. Na verdade, foi uma oportunidade para fazer algo especial por um país que eu passei a amar.
Michael Lauren é atualmente professor de bateria na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo (ESMAE) no Porto. Como surgiu esta oportunidade?
Apresento-vos a versão resumida. Depois de visitar Portugal numas férias (seguindo o conselho de um dos meus alunos portugueses que estudava na Collective) e, depois voltar mais duas vezes para dar workshops (incluindo dois workshops na ESMAE), fui convidado pelo Pedro Guedes (e em seguida pelo Coordenador do Departamento de Jazz) para vir para Portugal, com o objetivo de assumir o cargo de docente de bateria. Passaram já 11 anos desde que ensino na ESMAE e, durante esse período de tempo, tenho tido a sorte de trabalhar com um grupo tão maravilhoso de bateristas dedicados, talentosos e trabalhadores.
Já tocou ou gravou com Paul Anka, Chuck Berry, Charles Brown, Tom Jones, Darlene Love, Martha Reeves, Milt Hinton, Teo Macero, Jerry Jermott, Bob Mintzer, Kenny Davern, Bill Frisell, Mike Stern, Robert Kraft, Don Sebesky, Orquestra de Jazz de Matosinhos, The Postcard Brass Band, Jorge Costa Pinto Big Band, Quinteto Mário Santos, Quarteto Hugo Alves, Orquestra de Jazz do Algarve, 2 Tubas & Friends, Tora Tora Big Band entre muitos outros projetos. Considera importante para um professor de bateria estar sempre com um pé fora do mundo académico? Pensa que isso faz de si um professor mais completo?
Claro, mas mais uma vez esta é uma decisão pessoal. Gosto de tocar muitos estilos diferentes e é devido à variedade de experiências pelas quais já passei ao longo da minha carreira como baterista que eu sou capaz de dar aos meus alunos informação prática e perspicaz, para que eles possam tocar ao mais alto nível. Eu acredito que é mais difícil ajudar alguém com algo que nós próprios não fizemos, mas não é impossível. O meu principal objetivo como um professor é ajudar os meus alunos a encontrar sua voz musical.
Quais os principais projetos pedagógicos que liderou e lidera?
Eu estou sempre disponível para dar workshops ou mastercalsses. Eu também espero poder dar um workshop de bateria semelhante ao que dei, durante alguns anos, em Arraiolos.
O Michael já escreveu artigos para a revista Modern Drummer, para a Percussive Notes, para a revista da Percussive Arts Society, e para a Score Magazine. Registar as suas experiências musicais e pedagógicas contribui para que reflita sobre o(s) percurso(s) que protagoniza enquanto músico e professor?
Olhar para trás é importante para mim, mas é mais importante olhar para a frente com o objetivo de ser capaz de continuar a contribuir para a comunidade musical do mundo como educador e como artista, e crescer como músico. Sinto-me orgulhoso pelo que conquistei, especialmente os sete livros que escrevi. Espero sempre ser capaz de inspirar os meus alunos e os meus colegas. É uma honra poder viver a minha vida como músico. A música é o que eu sou, e não apenas o que faço.
Considera que eventos como este (Dia do Ritmo em Aveiro) são importantes para que a bateria assuma algum protagonismo enquanto instrumento musical?
Eu acho que é ótimo quando bateristas de todas as idades e experiências se reúnem. Qualquer evento como este deve ser inspirador, educacional, promover a troca de ideias e claro, muito divertido. Nada supera um grupo de bateristas a tocar em conjunto. Quantos mais bateristas, melhor. Que a força esteja connosco ("May the force be with us").
Muito obrigado por este tempo que nos dedicou. Quais as próximas iniciativas pedagógicas ou performativas em que os nossos leitores o poderão encontrar?
Eu vou atuar no Algarve no final deste mês. No dia 20 de junho estarei com a Orquestra de Jazz do Algarve em Lagoa e, na semana seguinte, sexta-feira dia 26, eu vou estar de volta a Lagoa com os "The Postcard Brass Band" para atuar no Lagoa Jazz Festival. É claro que a minha Academia de Bateria em Lisboa (The Academy International Drum – www.idruma.com) continuará as suas aulas durante todo o verão e vamos voltar a ter os nossos 3 dias intensivos em agosto. Existem também planos para fazer uma tournée de workshops, patrocinada pela Yamaha, em Portugal e Espanha no outono. Eu pretendo ainda gravar um CD com os "Michael Lauren All Stars" no final de setembro.
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