João Gil e as canções que fazem parte das bandas sonoras de tantas vidas
Fundou projetos como Trovante, Rio Grande, Cabeças no Ar, Ala dos Namorados, Moby Dick e Baile Popular. Atualmente integra os projetos TaisQuais, Quinteto Lisboa, Missa Brevis e Ode Marítima. A 23 de julho estreia no edpcooljazz "Non-Finito" onde reúne os temas mais significativos da sua carreira. João Gil é o homem inconformado, o músico que não para e nesta entrevista explica-nos porquê. O mundo das canções permitiu-lhe passar para as pessoas da forma mais nobre o que no mais íntimo e reflexivo pensamento cogita. João Gil iniciou a sua carreira em 1976 e a partir de então nunca mais deixou de interferir naquilo que ouvimos. Quem não se lembra de canções como "Saudade", "Esplanada", "125 Azul", "Zorro", "Loucos de Lisboa", "Postal dos Correios" e "Perdidamente"?
João Gil, muito obrigado por este tempo que dedica aos nossos leitores. Quando olha para trás e vê o seu nome ligado à origem de tantos projetos de sucesso sente que trilhou o caminho certo? Hoje faria tudo da mesma forma?
Creio que sim. Faria quase tudo da mesma maneira. Claro que aprendemos e tiramos sempre lições dos erros que cometemos ao longo da vida, normal. Somos um edifício inacabado em permanente construção.
A sua ligação ao Luís Represas, João Nuno Represas e Manuel Faria com o projeto Trovante marcou muito aquilo que viria a ser a sua carreira enquanto compositor? O Trovante deu-lhe algumas "fórmulas"?
Falta aí o Artur Costa, pessoal fundamental na criação do Trovante. Diria que o Trovante foi a casa Mãe onde tudo aconteceu. Um laboratório de experiências onde aprendemos, cada um no seu cantinho, a evoluir e a juntar os ingredientes para a poção mágica, necessários à criação de uma simples canção.
O fim do Trovante resultou da vossa necessidade de partir para novos projetos? O João sentia essa necessidade?
Sim, sentia que tinha de dar um valente pontapé na vida antes que ela me chutasse para canto.
Ala dos Namorados foi um desafio? Encontrou naquela formação uma possibilidade de vestir os seus acordes e melodias de uma nova sonoridade?
Um dia depois de almoço, bati à porta do Manuel Paulo com uma mala cheia de canções novas. Precisava de um parceiro como ele, grande músico, e construir um grupo à volta duma genética lisboeta e algo fadista, que já tinha praticado no Trovante, afinal um dos estilhaços que rebentaram em mim na era pós Trovante. A Ala veio a revelar-se como um dos projetos mais originais e peculiares na Música Portuguesa.
"Perdidamente" é a composição mais emblemática do seu vasto reportório?
É com certeza uma delas. São as pessoas que decidem essas classificações. Para mim, trata-se duma peça harmoniosa que um dia ouvi na minha cabeça.
Cada projeto que criou, representa os estados de espírito dos períodos em que ocorreram?
Certo. Temos muita gente dentro nós. Os ciclos vão-se revelando com os imputs do mundo que nos rodeia.
2008 foi o ano em que decidiu lançar um trabalho em nome próprio. Porque esperou tantos anos?
O meu património são as canções e para ter acontecido esse trabalho em 2008 foi preciso criar algum lastro que me desse a confiança necessária.
O projeto Baile Popular e o Quinteto Lisboa são formados para responder a algum tipo de solicitação do mercado?
Nunca há solicitações de mercado. Dá mau resultado quando andamos atrás dos "sucessos" dos outros. O Baile Popular tal como os Tais Quais, fazem parte do amor que tenho pela música do Sul, paixão começada com o Rio Grande, feitos com os grandes intérpretes que fizeram e fazem parte deles.
Missa brevis foi um projeto que "cozinhou" ao longo de muito tempo ou a sua construção está ligada a um período muito circunscrito da sua vida?
Foi uma cena que baixou em mim. Um dia de manhã, acabado de acordar, lembrei-me que seria interessante debruçar-me no Latim, afinal de contas, uma memória de infância quando na Covilhã ajudava à missa ainda em Latim. Foi num ápice que essa meditação deu lugar a uma Missa Brévis.
TaisQuais vai continuar na estrada?
Acabámos de gravar o nosso 1º CD e seguramente que fará alguma estrada. Trata-se de um "acampamento" musical cheio de onda popular.
No próximo dia 23 de julho vai apresentar-nos no edpcooljazz "Non-Finito". Pode descrever-nos um pouco daquilo que irá acontecer neste espetáculo? A proposta principal é revisitarmos os seus temas mais emblemáticos?
Sim, uma revisitação e alguns originais na companhia de grandes músicos e de grandes vozes.
Muito obrigado por este tempo que nos dedicou. Para terminarmos gostaríamos que nos dissesse o que pensa relativamente ao período que a música portuguesa atravessa.
A Música Portuguesa está em constante ebulição. Tratando-se de um País periférico, tem sempre tendência para absorver as influências que vêm dos epicentros da Pop e não só. Mas há muitos músicos que já perceberam que só uma boa ligação direta à genética urbana e tradicional nos identifica no Mundo. São esses que viajam e exportam a nossa identidade, embora seja, em minha opinião, legítimo a criação noutras línguas, como é evidente.
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