Filipe Larsen fala sobre o Festival 6 Continentes e sobre a sua carreira.
Nesta entrevista fizemos uma viagem pela sua vasta e multidisciplinar carreira. As primeiras questões destinaram-se a caracterizar o "Festival 6 Continentes - O Festival". Filipe Larsen é um músico, um performer que não consegue distanciar-se do outro lado da música, ou seja, a realização e produção dos próprios eventos. Enquanto músico participou em inúmeros espetáculos e gravações com nomes de reconhecido valor da nossa música tais como Ana Moura, Rui Veloso, Mariza, Jorge Palma, Sérgio Godinho, Ciganos D'Ouro, Pólo Norte, Lara Li, Fernando Girão e conviveu com nomes como John Beasley, Prince, Dennis Chambers, Jim Beard, Dave Weckl e John Patitucci. "Em vez de prémios, prefiro dar ênfase a elogios que ouvi da parte de pessoas, como Prince, Caetano Veloso, André Déquech, Custódio Castelo, Olga Prats, Tim Riese. O prémio Amália, de melhor baixista de 2012 é para mim importante nomeadamente por ser muito recente e mostrar que nos 50as pode-se também «dar cartas», algo que quando se é mais jovem não é fácil de imaginar".
Filipe Larsen, agradecemos em primeiro lugar a amabilidade demonstrada ao aceitar este desafio. Embora queiramos fazer uma viagem pela sua vasta e multidisciplinar carreira, começamos esta entrevista abordando o "Festival 6 Continentes - O Festival". Como descreveria sucintamente este Evento?
Desde já agradeço o convite da XpressingMusic, amavelmente endereçado pelo Bruno Amaral.
Passando desde já a responder: O Festival 6 Continentes é um grande evento formado ele próprio por inúmeros eventos, na sua grande maioria de pequena dimensão. Tem como objetivos promover a Língua portuguesa e as Culturas Lusófonas. A 1ª Edição do Festival realizou-se a 6 de dezembro de 2014, em 70 cidades e vilas de 16 Países espalhados pelo Mundo. Mais de 500 artistas participaram, entre amadores e profissionais. É provavelmente o Festival de grandes dimensões que permite a artistas amadores participarem e sentirem também de alguma forma o Festival como Seu. Paralelamente O Festival, tal como os outros festivais, convida os artistas profissionais com nomes mais prestigiados a marcarem igualmente presença. Nessa linha de inclusão e transversalidade, O Festival mostrou logo na sua 1ª edição o que é incluir nos seus países e cidades pessoas com idades entre os 4 e os 80 anos a participarem ativamente nos mais de 100 eventos que compuseram a nível mundial o Festival 6 Continentes a 6 de dezembro de 2014. Ainda na óptica da abrangência realizaram-se 26 tipos de eventos, desde os concertos de música clássica, de hip-hop, de música pop, de músicas populares, à dança, passando pelo teatro, cinema, exposições de pintura, fotografia, artesanato, gastronomia, lançamentos de livros, enfim, todas as áreas culturais.
A dimensão deste festival assusta qualquer organização... Como agiliza todo este projeto? Tem uma grande equipa? Pode apresentar-nos aqueles que consigo trabalham mais de perto para que o festival seja uma realidade?
Realmente a realização de um festival que conta com a participação de dezenas e dezenas de localidades parcialmente em simultâneo a nível mundial só estará, à partida, ao alcance de uma das maiores produtoras do planeta, como é por exemplo, a Live Nation. Sempre procurei não copiar, criar algo que já foi feito e refeito. Independentemente de à partida pretender criar um evento de grande dimensão, procurei torná-lo único e daí O Festival ter características como estas:
- Realiza-se mundialmente;
- Realiza-se em dezenas de localidades;
- Realiza-se parcialmente em simultâneo, num único fim-de-semana do ano;
- Envolve todas as áreas culturais;
- Dependência muito reduzida de patrocínios, apoios institucionais e de artistas de renome;
- Abre os seus braços tanto a participantes amadores (que cumpram requisitos mínimos de qualidade) como a profissionais de renome;
- Incentiva os artistas a dinamizar, com ou sem produtores e promotores, os seus próprios eventos participantes no Festival;
- Espírito de grande democracia na medida em que em todos os locais participantes há vozes ativas na seleção dos espaços e artistas intervenientes;
- O Festival 6 Continentes permite a promotores e produtores locais organizarem e gerirem os eventos locais participantes desde que cumpram as suas diretivas e filosofia;
- Permite participações de outros festivais no Festival;
- Cria intercâmbios culturais entre os diversos intervenientes ao nível global;
- Edição de um livro sobre cada edição do Festival (o livro sobre 2014 estará editado em setembro de 2015).
Não há a pretensão de que cada característica seja original, mas algumas são, sobretudo conjugadas entre si.
Tenho neste momento uma pequena equipa de pessoas que colaboram sem pensarem na parte financeira à frente da Cultura. Delas, a mais importante é a minha cara-metade, Lisete Larsen, que é sem dúvida o meu braço direito no Festival 6 Continentes. Seguidamente, conto com colaboradores ao nível da comunicação e marketing, coordenadores continentais, designer gráfico, e assistentes administrativos(as). Estou a falar neste momento de uma equipa de 11 pessoas. Para a maioria delas, O Festival nesta fase só lhe toma algumas horas semanais. Para 2 delas (adivinhem quais), entre as 7 e as 14h diárias.
O Festival vive muito de um dos seus conceitos chave: criação de uma rede de representantes locais a nível mundial. Estou nesse sentido a selecionar representantes ao nível das localidades, países e continentes. Os representantes locais têm autonomia de seleção de local do(s) evento(s), artistas participantes e a gestão das receitas e despesas locais. Os patrocínios locais também são para os seus eventos locais. É essa a forma alternativa para poder realizar um Festival mundial sem tem um mega orçamento e uma equipa gigantesca.
Complementarmente ao acompanhamento à distância que é efetuado a nível "central" é seguida globalmente a filosofia do Festival e há também um elo comum ao nível da imagem.
Há apoios institucionais para o evento?
Apoios institucionais são mínimos mas, apesar do Festival estar bem blindado contra dependências de variadas ordens, serão mais procurados nesta 2ª edição, a realizar a 17 e 18 de outubro de 2015, e de uma forma ainda mais clara, na 3ª edição (Outono de 2016).
Qual ou quais considera serem as principais diferenças relativamente à primeira edição?
A 2ª edição conta com a experiência de realização da 1ª. Há acertos e melhoramentos que passam pelo melhoramento da imagem, dos requisitos para os representantes, e ao nível do controlo de qualidade dos eventos locais e da informação que nos é enviada, tanto nos dias do Festival, como posteriormente, a incluir no livro que cobrirá a edição 2015 do Festival.
Há um aspeto que não podemos deixar de referir. O Festival 6 Continentes evidencia uma clara consciência social. Quais as causas que abraçarão na próxima edição?
O Festival 6 Continentes já conta com 2 causas que vai apoiar, a serem anunciadas brevemente. Haverá mais... é o que se prevê.
A forma de apoio da nossa parte será sobretudo ao nível a divulgação pois O Festival tem enormes limitações financeiras. Se houver uma clara melhoria ao nível orçamental, O Festival terá todo o gosto em passar a ajudar também financeiramente.
O Filipe Larsen é um músico, um performer mas não consegue deixar de estar ligado ao outro lado, ou seja, à face da produção e realização dos próprios eventos. Concorda? Quais as maiores ou as mais significativas produções em que participou até hoje?
Uma boa parte da minha vida vivência profissional foi dedicada à Música na qualidade de músico. No entanto, digamos que um terço da minha atividade passou pelas áreas da produção ou promoção de eventos (por exemplo: Miles Davis no Coliseu de Lisboa, Festival de Jazz na Cidade, em Lisboa, Festival de Monsanto, entre outros), pelos trabalhos discográficos (1º álbum de André Sardet, 2 álbuns da Fúria do Açúcar, 1 álbum do fadista Carlos Macedo, entre outros) pela produção de jingles institucionais (Vários pavilhões da EXPO 98) e pela publicidade para Televisão. Como ator, participei, por exemplo, num filme holandês nomeado para Óscar do melhor filme estrangeiro: Züs & Zo. Enquanto modelo fiz o anúncio TV da Tuborg em meados dos anos 80. Também me dediquei à gestão de carreiras artísticas (por ex. Dama Bete, Melo D) e tenho algumas participações em campanhas solidárias.
Participou como músico em espetáculos e gravações com grandes nomes da nossa música tais como Ana Moura, Rui Veloso, Mariza, Jorge Palma, Sérgio Godinho, Ciganos D'Ouro, Pólo Norte, Lara Li, Fernando Girão... Considera que a sua participação em projetos tão diversificados o torna um músico mais completo e mais polivalente?
A polivalência em termos de estilo é algo de natural, que obviamente se pode desenvolver. É muito enriquecedor em termos musicais e humanos conviver com sons e personalidades muito diversas, algo que quando se toca só um determinado estilo, como o rock ou o fado, não permite bem ter a noção da diversidade artística existente nacional e internacionalmente.
O convívio com nomes como John Beasley, Prince, Dennis Chambers, Jim Beard, Dave Weckl e John Patitucci trouxe-lhe aprendizagens e vivências que coloca em prática no seu dia-a-dia?
O convívio com músicos de nível mundial dá-nos uma perceção de que, ao nível da personalidade, são pessoas ultra dotadas em termos artísticos mas, consoante o músico, poderá ser algo especial mas localizado, ou seja, uma sobredotação que não se verifica em outras áreas das suas pessoas. Outros há que as supercapacidades se revelam de uma forma mais abrangente. No fundo, a esse como a outros níveis, não diferem dos músicos portugueses. Devo salientar que grande parte dos músicos mais interessantes ao nível cultural e humano que conheci são portugueses e brasileiros.
O reconhecimento do seu valor expresso em prémios e convites para representar o país tem sido evidente. Há prémios ou reconhecimentos públicos que o tenham marcado de forma mais efetiva?
Em vez de prémios, prefiro dar ênfase a elogios que ouvi da parte de pessoas, como Prince, Caetano Veloso, André Déquech, Custódio Castelo, Olga Prats, Tim Riese. O prémio Amália, de melhor baixista de 2012 é para mim importante nomeadamente por ser muito recente e mostrar que nos 50as pode-se também "dar cartas", algo que quando se é mais jovem não é fácil de imaginar.
Como vê o panorama musical português da atualidade relativamente à música que se faz, ao ensino da música e à postura do estado perante esta área do conhecimento artístico?
Penso que os tempos que correm, de grandes dificuldades financeiras da grande maioria dos portugueses, trazem cortes ao nível da cultura, algo visto sistematicamente como secundário ao nível dos orçamentos do Estado. Em tempos de crise, corta-se logo na cultura, e até na educação. Ora, cultura e educação deveriam estar mais entrelaçadas, pois são os dois principais alicerces da construção do Indivíduo. Há países em que toda a gente, desde muito cedo, aprende a tocar pelo menos 1 instrumento musical. Nesses países há uma quantidade de bons músicos nitidamente superior a Portugal, como não pode deixar de ser. Inclusive, a cultura rítmica musical no nosso país é muito fraca, mais do que a melódica, que é a mais desenvolvida, à frente da harmónica. Em África, pela questão cultural, a rítmica é das mais fortes do planeta. Deve assim ser desenvolvida por cá a parte rítmica desde a mais tenra idade, até porque é das que mais facilmente envolve e interessa as crianças. Falo deste aspeto porque é muito pouco abordado em Portugal. A Música Portuguesa continua no entanto a dar mostras de crescimento, nomeadamente ao nível de projetos originais de variados tipos e ao nível de cantores e outros músicos (sim, os cantores também são Músicos, a voz sendo o seu instrumento), que dão mostras em certos casos de grande nível de execução ou criatividade.
Trata-se de um "remar contra a maré" que deve ser elogiado e que é também de alguma forma motivado pela falta de união da Classe: o sindicato é inoperante pois também não há naturalmente vontade entre os músicos para alterar esse facto. Muito há por fazer.
Muito obrigado mais uma vez por esta oportunidade. Para terminar gostaria de mencionar algum projeto que tenha para um futuro próximo e sobre o qual não tenhamos falado nesta entrevista?
Complementarmente ao Festival 6 Continentes, tenho 2 iniciativas:
- Individualidade Lusófona – Trata-se de eleger todos os meses 1 personalidade do universo lusófono que se destaque pela sua contribuição para o Bem geral, independentemente da área de atividade. Haverá adicionalmente a eleição da Individualidade Lusófona de 2015 entre as eleitas de cada mês. Haverá mensalmente nomeado um conjunto de pessoas escolhidas por entidades lusófonas, que vão das faculdades, aos jornais, às televisões. Serão esses nomeados anunciados e postos a votação. Qualquer pessoa pode votar. Basta ingressar no grupo público abaixo referido.
www.facebook.com/groups/individualidade.lusofona - Capitais Culturais Lusófonas – Consiste na nomeação mensal de uma cidade de país lusófono ou de outro país onde resida uma ou mais comunidades lusófonas, onde se realizarão vários eventos culturais relacionados com as culturas lusófonas. Enquanto que o Festival 6 Continentes engloba muitas localidades num curto espaço de 1 fim-de-semana, neste caso será num local de cada vez, mas com algumas exigências acrescidas.
www.facebook.com/Capital.Cultural.Mensal
Página do Festival 2014:
www.facebook.com/Festival.6.Continentes.O.Festival
Página do Festival 2015:
www.facebook.com/groups/Festival6Continentes
Em 2015 será ainda introduzido no Festival e nas Capitais um conceito inovador que terei todo o gosto em revelar brevemente.
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