Crispim Luz e o seu clarinete em destaque
Pela sua formação já passaram nomes como Philippe Berrod, Philippe Cupper, Ronald Van Spaendonck, Stephane Hascöet, Michel Lethiec, Larry Combs e Juan Ferrer. Destaca no entanto nomes portugueses com os quais privou durante mais tempo e com uma maior proximidade. Nas diversas aparições públicas que já fez por vários países e, claro, por Portugal, Crispim Luz tocou já sob a direção de maestros como Douglas Bostock, Rafael Villaplana, Benjamin Zander, Eugene Corporone, José Ferreira Lobo, Elisabeth Fuchs, Álvaro Cassuto, António Saiote, Jan Cober, Alex Schilings and Amaury du Closel. É desde 2007 concertino da Banda Sinfónica Portuguesa e com esta formação venceu os Concursos de La Sénia e WMC Kerkrade. Em 2009 foi convidado a participar no "Festival junger Künstler Bayreuth" onde trabalhou com Pierre Martens em música de câmara. A entrevista que se segue mostra como Crispim Luz tem vindo a crescer no panorama da música em Portugal.
A entrada para o Conservatório de Música do Porto constituiu-se como o início da sua aprendizagem musical ou já tinha conhecimentos musicais advindos de outros contextos?
Tudo aconteceu muito rápido. Comecei a minha aprendizagem na Banda de Música de Moreira da Maia. Comecei a aprender a tocar clarinete e passados poucos meses convidaram-me a entrar para a banda tendo formação com um músico de lá que andava no conservatório. Tudo isto aconteceu no ano de 1999 e no ano 2000 entrei para o conservatório.
No Conservatório de Música do Porto foi aluno do Professor António Moreira Jorge. Foi muito importante para si passar pelas mãos deste pedagogo?
Eu estive durante quatro anos no conservatório. No último ano, andava eu ainda no liceu na área de ciências, o professor Moreira Jorge começou a incentivar-me para ir para o ensino superior seguindo a área da música. Tudo isto vem no seguimento de eu ter começado muito cedo a participar em concursos e masterclasses.
Entrou então para a ESMAE sendo aluno nas classes dos professores Nuno Pinto e António Saiote...
Durante os primeiros três anos estudei com o Professor Nuno Pinto que me ajudou muito a crescer como músico. A sua forma de ver a música foi também para mim inspiradora. Neste momento encontro-me a fazer o mestrado em ensino da música com o Professor Saiote.
Disse-nos há pouco que enquanto frequentava o conservatório já ia participando em alguns concursos. Foi arrecadando certamente alguns reconhecimentos do seu trabalho, alguns prémios... Há alguns que tenham um significado mais relevante para o Crispim?
Todos são, de alguma forma importantes. O meu primeiro prémio foi, em 2001, uma Menção Honrosa no concurso "Marcos Romão". Como só tocava clarinete há dois anos, senti-me um um pouco fora do contexto pois estavam lá alunos de escolas profissionais e outros com muitos mais anos de experiência do que eu. Este prémio foi muito positivo e serviu como um incentivo para continuar a estudar. Entre outros prémios importantes para mim destaco um mais recente que conquistei em 2012. Falo do 3º prémio no concurso Intermúsica - Birkfeld na Áustria. Fui o único clarinetista premiado, ficando em terceiro lugar. Para além do prémio guardamos sempre as palavras das pessoas e como as decisões nunca são unânimes... guardei algumas palavras nas quais me diziam que o primeiro prémio também teria ficado bem entregue a mim. Enfim, coisas normais que acontecem nos concursos e que estão sempre dependentes dos júris que decidem. Guardamos isto porque é o reconhecimento do nosso trabalho, independentemente do resultado na classificação final do concurso.
Para a sua formação contribuíram alguns dos mais prestigiados clarinetistas a nível nacional e internacional. Há alguns que destaque?
A nível nacional, como já mencionei há pouco, não posso deixar de referir o professor Nuno Pinto e o professor António Saiote. Também destaco o professor António Moreira Jorge. Estes três nomes acompanharam-me ao longo da minha formação académica. Gostaria, no entanto de destacar a professora Iva Barbosa e o professor António Rosa, sendo estes últimos importantes numa fase posterior da minha formação. A nível internacional já trabalhei com vários nomes mas só em masterclasses...
Como concertista e solista tem atuado em várias salas em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Áustria e Brasil. Estes concertos têm surgido no âmbito de projetos em que se encontra inserido ou tem ido em nome próprio em alguns deles?
Na Áustria fui a nível individual para a participação no concurso de que falámos há pouco e em que toquei a solo com uma orquestra. No Brasil atuei com o Quarteto Contratempus. Embora não tenha referido na questão, posso lembrar que no ano passado tive uma digressão com a Banda Sinfónica Portuguesa pela China. Em países mais longínquos a minha participação tem sido sempre com grupos. Aqui pela Península Ibérica tem sido mais com o Quarteto Contratempus e com a Banda Sinfónica Portuguesa.
A Banda Sinfónica Portuguesa é o projeto com o qual colabora com maior regularidade?
Sim. Sou o concertino.
Mas também já colaborou com a Orquestra do Norte...
Sim. Cheguei a fazer lá uma temporada.
No entanto também tem marcado presença em projetos internacionais...
Sim. Fiz parte de uma orquestra que foi criada com fundos comunitários em Paris. Chamava-se Ensemble Orfeo 33 e tinha como objetivo fazer ópera de uma forma portátil. Fizemos concertos em Paris, Vendôme, em Bonn na Alemanha e em Bayreuth também na Alemanha. A ideia deles era juntar vários músicos da Europa. Eu fui selecionado porque participei num festival de música na Alemanha e no decorrer do mesmo houve provas para o ensemble. Durante um ano andei a tocar com eles fazendo esse trabalho de ópera itinerante.
É membro fundador do Quarteto Contratempus. Aliás recentemente estivemos a ouvir o vosso ensaio relativo à obra "A Querela dos Grilos". Este projeto absorve-o bastante e é muito acarinhado por todos os elementos... Concorda?
É um projeto do qual faço parte e sou fundador. Já o trazemos há 8 anos sensivelmente. Temo-nos dedicado cada vez mais a este projeto e este ano tem sido um ano de grande intensidade. Tem sido também um ano importante para a nossa afirmação no contexto da música portuguesa, para a divulgação dos compositores portugueses e das suas obras. Temos tentado mostrar algo de novo. Algo que traga as pessoas à música. Queremos que as pessoas saiam dos nossos concertos satisfeitas e com vontade de voltar.
Para além do Crispim Luz músico, performer, há o professor. Encontra-se neste momento a lecionar em alguma instituição?
Dou aulas na Academia de Música Costa Cabral e também leciono numa banda filarmónica de Esposende que é a Banda de Música de Antas.
O que pensa ser mais importante para o percurso académico e profissional de um músico? O que tenta transmitir aos seus alunos neste sentido?
Eu inspiro-me um pouco no meu percurso do conservatório, até pela imagem que sempre guardei do meu professor. Tento sempre facilitar as mudanças técnicas dos meus alunos. Tento que qualquer problema de ordem técnica ou de adaptação ao instrumento seja minimizado para que não venham a ser prejudicados pelos mesmos no futuro. Para mim é também muito importante que eles usufruam da música. Preocupo-me menos com os concursos do que com o facto de eles usufruírem da música o do prazer que esta lhes possa vir a dar. Gosto de responsabilizá-los para que eles percebam que têm que atingir os objetivos. Mesmo sabendo que a vida dos alunos não é hoje muito fácil pois a carga horária é enorme. Sou ainda muito novo para me considerar um professor. Considero-me mais um orientador.
Considera que essa postura se coaduna com o ensino atual? Como vê o ensino da música em Portugal atualmente?
Penso que felizmente e para regozijo de todos, temos vivido um período de ouro da música em Portugal. As gerações atuais e as que virão estão muito bem preparadas. Basta ver os resultados obtidos internacionalmente em concursos e festivais. O trabalho desenvolvido pelas escolas de músicas tem sido fantástico. Tenho, no entanto, o receio de que nos próximos anos haja um retrocesso devido à crise mundial que vivemos a nível financeiro. Por cá os apoios à cultura também são cada vez menos. Também poderá haver um retrocesso devido à falta de criação de públicos. Desde o 25 de Abril e com a criação das escolas profissionais houve um grande investimento na formação musical e na formação dos músicos. Penso que agora é tempo de as escolas de música começarem a pensar na formação de públicos. Penso que quem vai consumir cultura daqui a uns anos serão os atuais alunos das academias e dos conservatórios. Músicos vão aparecer sempre porque a formação existe. É preciso agora fomentar o consumo da música. A formação de públicos deverá ser agora a aposta pois músicos, assim como médicos e engenheiros, nunca irão faltar. É necessário criar massa crítica devidamente formada para consumir cultura.
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