Melech Mechaya. Sucesso e reconhecimento internacional made in Portugal.
Assumem a música klezmer como influência central nas suas produções. No entanto, os Melech Mechaya falam-nos da música portuguesa como uma influência forte embora todos os géneros vizinhos do klezmer acabem por aparecer naturalmente. Assim, a música balcânica, a música árabe, o flamenco para além de outras inúmeras influências marcam presença implícita na música deste original projeto. A crítica não podia ser mais positiva, sobretudo em algumas revistas como a fRoots, a Songlines, ou FolkWorld. O "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" foi nomeado para Melhor Disco Instrumental nos Independent Music Awards 2012 onde o júri incluía nomes como Tom Waits, Suzanne Vega e Ziggy Marley. Este álbum entrou para o Top de algumas rádios em Espanha, Itália e nos Estados Unidos. Este ano trouxeram-nos "Gente Estranha", um disco onde grande maioria das composições é dos Melech Mechaya.
Muito obrigado por terem aceitado o nosso convite para esta entrevista. Como foi o vosso percurso até 2006? Já se conheciam? Tocavam noutros projetos musicais?
Foi bastante variado, mas todos tínhamos como amigo comum o André (guitarra). Três de nós (João Graça, Miguel e André) estudávamos no Conservatório, e três (João Novais, Francisco e André) partilharam 2 grupos, um de funk e outro de flamenco. O André e o Miguel partilharam ainda um duo de chorinhos, e no seguimento de toda esta mescla surgiram os Melech.
Quando vos pedem para caracterizarem a vossa música, como a descrevem? Quais as vossas principais influências?
A música klezmer é a nossa influência central, pois foi em torno de um livro de músicas tradicionais judaicas (da europa central e oriental) que começámos a trabalhar. A música portuguesa é uma influência forte, mas todos os géneros vizinhos do klezmer acabam por aparecer naturalmente... a música balcânica, a música árabe, o flamenco... Mas as influências são inúmeras, e por diversas vezes vêm de outras formas de arte.
A formação musical dos músicos que formam este projeto é idêntica, ou fizeram percursos académicos diferentes?
Varia. O Francisco é autodidata, o Miguel frequentou o Conservatório, o Graça terminou o Conservatório, o João e o André terminaram a Escola Superior de Música.
O EP "Melech Mechaya" e o LP "Budja Ba" foram as vossas primeiras edições. Quando ouvem esses primeiros trabalhos, o que sentem?
Estes dois discos transportam-nos muito diretamente para aqueles primeiros tempos em que os Melech começaram a tocar. Sentimos alguma nostalgia, pois foram tempos muito bonitos, cheios de alegria e de alguma ingenuidade. Tínhamos 20 e poucos anos, e começámos a percorrer o país a partilhar aquelas músicas com um público que não nos conhecia. Essa alegria e ingenuidade nota-se nas músicas. Foram tempos de descoberta!
Em Outubro de 2011, o álbum "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" conta com a participação da fadista Mísia e do trompetista norte-americano Frank London, líder e fundador dos Klezmatics. Este álbum trouxe-vos muitas alegrias e muitas conquistas. Concordam? Falem-nos da viragem na vossa carreira que este álbum vos proporcionou.
Concordamos, claro. Foi um disco em que apostámos muito. Artisticamente é um trabalho que foi bastante pensado e amadurecido, e transporta em si a evolução que tivemos desde o EP de 2008. A colaboração com o Frank e com a Mísia é algo de inestimável valor e foi uma experiência que recordaremos sempre. O "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" é o primeiro contacto que muitas pessoas tiveram connosco, e foi um disco que fizemos questão de apresentar no maior número de palcos possível. E foi também o disco que nos permitiu dar muitos primeiros passos a nível internacional: foi editado e distribuído na Europa, Estados Unidos e Japão, e foi apresentado ao vivo em vários países (Espanha, Bélgica, Áustria, Finlândia, Suécia, Brasil, Cabo Verde...). É um disco que nos é muito querido, sem dúvida.
Este ano trouxeram-nos "Gente Estranha". Falem-nos um pouco deste álbum. Sentem uma maior maturidade ao nível da sonoridade? Em quantos países foi editado? Como tem sido a crítica?...
O "Gente Estranha" é o passo seguinte ao "Aqui Em Baixo...", em todos os sentidos. Musicalmente é um disco onde experimentamos mais, e a grande maioria das músicas são originais nossos (no "Aqui Em Baixo..." tínhamos 50% de originais e 50% de músicas tradicionais). Não foi tão amadurecido como o anterior, mas é um disco onde nos atiramos para sonoridades que nunca havíamos experimentado. O "Querubim Barbudo", com a Amélia Muge, é um exemplo perfeito disto. Se nos mostrassem esta música em 2007 e nos dissessem "isto são vocês em 2014" talvez não acreditássemos (risos). Convidámos ainda o Pedro da Silva Martins para nos emprestar o seu talento, e ele não só criou uma história maravilhosa como nos deu o título do disco. E a cereja no topo do bolo foi a maneira como o Jazzafari interpretou a letra do Pedro: não podíamos esperar melhor! As críticas têm sido bastante positivas, e o disco foi editado internacionalmente pela Felmay, que editou também o "Aqui Em Baixo...", pelo que está distribuído também na Europa, Estados Unidos e Japão.
Dos inúmeros espetáculos que já fizeram por Portugal e por esse mundo fora, há algum, ou alguns que vos tenham marcado e que por isso se tenham tornado inesquecíveis?
Claro que sim, felizmente temos muitos que guardaremos sempre connosco. Desde logo o primeiro concerto de todos foi um momento muito especial. Tocar no Coliseu a abrir Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra foi o concretizar de um sonho (e a meia-hora de concerto mais louca que já tivemos), tocar para vinte mil pessoas em Guimarães com a Fura Dels Baus na Capital Europeia da Cultura foi inesquecível, tal como a primeira vez que tocámos na Festa do Avante! e tivemos de fazer um terceiro encore. Fora de Portugal temos também muitas recordações boas e muitas deste ano de 2014, como tocar para salas esgotadas na Alemanha e na Bélgica, ou receber o carinho do público na Finlândia e na Áustria. Somos muito sortudos!
Têm arrecadado vários prémios e vários elogios da crítica nacional e internacional. Podem referir aqui alguns dos mais importantes?
Felizmente temos recebido críticas muitos boas, sobretudo em algumas revistas como a fRoots, a Songlines, ou FolkWorld. O "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" foi nomeado para Melhor Disco Instrumental nos Independent Music Awards 2012 (cujo júri incluía artistas como Tom Waits, Suzanne Vega ou Ziggy Marley), e entrou nos topes de algumas rádios em Espanha, Itália e nos Estados Unidos. Prémios só mesmo o António Rodrigues, realizador-prodígio com quem trabalhámos nos telediscos de "Dança Do Desprazer", "Los Bentos" e "Gente Estranha": foi galardoado em Portugal, Alemanha e Estados Unidos!
O teatro e o cinema são duas áreas com as quais se cruzam inúmeras vezes. Este é um trabalho sem o qual os Melech Mechaya já não conseguem respirar?
A encenação é algo que para nós é importante. Quem viu um espetáculo nosso sabe disso. E o teatro e o cinema são dois formatos artísticos em que a encenação adquire uma dimensão central. Foi natural assim a nossa incursão por aqui. Inicialmente chegou através de um convite do grupo de teatro "A Truta" para participar na peça Ivanov de Tchekov. Repetimos no ano seguinte e gravámos uma curta dirigida pelo Joaquim Horta. O espetáculo com a Fura Dels Baus foi também marcante, pela dimensão da encenação. O cinema é outra área em que temos muito interesse, embora só tenhamos composto a banda sonora para a curta do Joaquim. Normalmente cedemos músicas já feitas para as bandas sonoras, como foi o caso do filme do Silvio Soldini "O Comandante e a Cegonha" (lançado em 2012 pela Warner Bros. em Itália).
Vêm aí dois grandes concertos. O que vão apresentar em Lisboa e no Porto em janeiro? Há surpresas? Há convidados especiais?...
O que iremos apresentar dia 17 de Janeiro na Casa da Música (Porto) e 23 de Janeiro no Centro Cultural de Belém (Lisboa) será o espetáculo que desenhámos para a apresentação do "Gente Estranha", e que temos vindo a aperfeiçoar desde Março, quando o apresentámos na Alemanha. Desta vez, ao contrário do que aconteceu com o "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" no Cinema São Jorge em Lisboa, não teremos convidados especiais. Seremos nós com o nosso público, com as pessoas que (felizmente) já nos seguem, que nos acarinham muito, e por quem nós nutrimos muito carinho também. Vão ser duas noites muito, muito especiais.
Muito obrigado por este tempo que nos dedicaram. Há sonhos e projetos por concretizar que possam ganhar vida em 2015?
Obrigado nós pelas perguntas! 2015 será mais um ano cheio de desafios. Em Janeiro lançaremos novo single e novo teledisco, e faremos algumas digressões fora do país que nos entusiasmam muito. É uma questão de estarem atentos!
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