Os Donna Maria falam sobre o seu mais recente trabalho, “Três”.
Miguel Majer, músico, compositor e produtor foi o porta-voz dos Donna Maria nesta entrevista onde ficámos a saber um pouco da história deste projeto musical português. Assumem como um dos pilares da banda a língua portuguesa e a visão portuguesa que têm de Portugal e do mundo. Sobre os possíveis influxos ou ascendências dos Donna Maria dizem-nos: "Não temos influências marcantes. As que eventualmente existam estão bastante diluídas na nossa música. Umas conscientes outras nem tanto. Digamos que são «influências homeopáticas». Talvez por isso não seja fácil «colar» os Donna Maria a qualquer outra banda".
Muito obrigado por nos concederem esta entrevista. Podem contar-nos a história destes últimos 10 anos de existência dos Donna Maria?
A resposta daria um livro daqueles calhamaços. Em resumo, Donna Maria vem de uma banda de versões que no ano 2000 formei com a Marisa Pinto e o Ricardo Santos. Passados 2 ou 3 anos propus o projeto Donna Maria e em 2004 editámos "Tudo é para sempre". Em 2007 saiu o nosso 2º disco "Música para ser humano". Este novo trabalho "TRÊS", agora editado, marca uma nova fase da banda depois das saídas da Marisa e posteriormente do Ricardo e a entrada da Patrícia Roque (cantora) e a Inês Vaz que já fazia parte da banda desde 2006 mas que desta vez integra o triângulo mais visível, dividindo comigo a produção do disco. Esta é uma história resumida do ponto de vista cronológico. Depois temos muitas estórias ao longo destes 10 anos que talvez um dia conte algumas. Umas bastante divertidas e outras nem tanto.
A guitarra, o Acordeão e a voz são os pilares deste projeto?
Os pilares não são os instrumentos. Nos outros dois discos utilizámos a guitarra portuguesa que agora foi "substituída" pela guitarra elétrica e acústica. Na verdade nem sei se teremos pilares. Por gostarmos do risco, por vezes parece mais que andamos em areias movediças. Talvez o único pilar existente seja a língua portuguesa e a nossa visão portuguesa de Portugal e do mundo.
Ao nível das letras, existe alguma preocupação em passar uma mensagem sobre alguma temática específica ou, por outro lado sentem-se livres para abordar qualquer assunto?
Não existe nenhuma temática em particular. Somos livres de escrever sobre qualquer assunto e temo-lo feito. Embora neste momento esteja a olhar para todos os discos e observo que "A Donna Maria" está a ganhar vida própria. Está aos poucos a impor-se uma personagem que teremos de respeitar. No meu caso, como autor da maioria das letras, há um tema que não escrevo: "Dor de corno". Atrai-me mais escrever, por exemplo, sobre poligamia do que "sofrimento por abandono". Para mim, "dor de corno" não tem beleza alguma. Nem estética nem emocional. É apenas sofrimento.
Quais as influências que marcam de forma mais vincada os Donna Maria?
Não temos influências marcantes. As que eventualmente existam estão bastante diluídas na nossa música. Umas conscientes outras nem tanto. Digamos que são "influências homeopáticas". Talvez por isso não seja fácil "colar" os Donna Maria a qualquer outra banda.
Falem-nos um pouco daquilo que nos trazem com o trabalho "Três".
Este novo trabalho espelha uma fase de amadurecimento dos Donna Maria. Já fomos mais "experimentais" mas o momento é de desenvolver e aprofundar ideias. As fases experimentais são interessantes e estimulantes mas quisemos esculpir o experimentalismo e deixar à vista o que realmente nos interessa. Digamos que neste "TRÊS" estamos mais em "estado depurado".
"A Rosa e o Espinho" teve o impacto que esperavam junto do público?
Ainda é cedo para ter essa perceção. Podemos dizer que tem sido muito bem recebida mas Donna Maria não é uma banda de corrida de 100 metros. Estamos mais talhados para maratonas. Não é uma música tão imediata como outras o são mas o que a história nos diz é que com o tempo as pessoas vão-se ligando de uma forma mais profunda à nossa música. Isso é algo que nos agrada.
Os vossos espetáculos são mais intimistas, "amigos" de salas de espetáculo mais pequenas ou são adaptáveis a qualquer tipo de evento mesmo que ao ar livre?
Na verdade sempre fizemos concertos, tanto em auditórios como ao ar livre. Sentimo-nos bem nos dois ambientes. As energias que se criam são diferentes mas ambas muito saborosas.
Por falar em concertos, podem partilhar com os nossos leitores as vossas próximas datas?
Neste momento estamos ainda na fase de promoção. Nesse âmbito, estaremos dia 14 na FNAC do Colombo pelas 18:30 e na FNAC de Alfragide pelas 22.30. Dia 15 estaremos na FNAC de Almada pelas 22.30h. Em primeira mão, podemos anunciar que dia 3 de Dezembro iremos apresentar o disco "TRÊS" no B.leza em Lisboa. Os detalhes ainda não temos.
Quem são os músicos que compõem atualmente os Donna Maria? A formação é sempre a mesma independentemente da dimensão do espetáculo?
O trio mais visível sou eu (Miguel Majer), Patrícia Roque (cantora) e a Inês Vaz (acordeonista). Ao vivo junta-se a nós o baixista Nuggy, Paulo Cavaco nos teclados e Jorge Marques nas guitarras. A formação é sempre a mesma, embora possamos ter um convidado ou outro em algum concerto. Em simultâneo estamos a ensaiar uma formação menor e com arranjos totalmente acústicos para os Showcase das FNAC. Estamos a gostar do resultado e pode ser que mais tarde tenhamos um espetáculo dentro dessas características. Quem sabe?...
Numa altura em que o fado e outras abordagens acústicas ganham maior interesse por parte da sociedade, até fruto da maior visibilidade que foi dada às músicas do mundo, os Donna Maria esperam que a sua música chegue mais longe e até extravase as fronteiras nacionais?
Tivemos uma primeira experiência em 2004 com a distribuição de "Tudo é para sempre" em vários países no mundo. O trabalho ainda estava no início mas a recetividade foi muito positiva. Segundo a nossa editora na altura, foram vendidas mais de 3000 cópias, que para uma banda portuguesa que iniciava o seu percurso, é de assinalar. É um caminho que mais cedo ou mais tarde iremos retomar. Sabemos que temos esse espaço para conquistar.
Quais os vossos "sonhos" ou objetivos para o futuro próximo?
Um dos nossos grandes objetivos, era ver se, para além da nossa vontade, fazia sentido continuar com os Donna Maria depois das várias alterações. Não podíamos ter certezas sobre essa questão pertinente. Neste momento não temos a menor dúvida de que faz sentido para muita gente e essa era condição base para seguirmos em frente. Era de facto o nosso grande objetivo. Sendo assim, têm aparecido várias ideias para futuro embora o que mais nos mova neste momento seja apresentar este novo trabalho ao vivo. De resto temos muitos sonhos e objetivos comuns a tantas bandas e artistas.
Mais uma vez obrigado pela colaboração com o XpressingMusic – Portal do Conhecimento Musical.
Muito obrigado nós, pelo interesse demonstrado pelo nosso trabalho. Votos de continuação de bom trabalho neste espaço musical que é o vosso e que numa época que escasseiam espaços para divulgação da música, resta-nos agradecer o vosso inestimável serviço prestado à música em geral e à portuguesa em particular.
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