Frankie Chavez. O blues, o rock e o folk com brisas de fado passados em revista…
Frankie Chavez falou com o XpressingMusic sobre as suas influências musicais, o seu percurso de aprendizagem na área da música, as suas viagens e sobre o seu último trabalho "Heart & Spine". O nosso entrevistado considera que a música em Portugal vive um momento próspero como nunca tinha tido e que nada se faz lá fora que não conheça paralelismos e até melhores exemplos no nosso país. Acabado de passar pelas FNAC's e pelo Rock in Rio, Frankie Chavez prepara-se para mais alguns festivais por onde irá passar, como por exemplo o Super Bock Super Rock. O último disco tem a etiqueta Universal Music e isso reflete, na opinião de Frankie, a evolução de que tem sido alvo o trabalho que realiza.
XpressingMusic (XM) – Do que temos lido sobre o seu trabalho e do que temos ouvido da sua música ficamos com a ideia de que esta é uma fusão de estilos influenciada por paisagens sonoras resultantes de muitas vivências. Como caracteriza a sua música?
Frankie Chavez (FC) – É um bocado isso que tu disseste... A minha música resulta das minhas vivências, das minhas viagens, do facto de já ter vivido lá fora em Espanha e na Austrália. Fui apanhando coisas aqui e ali. Mesmo nos sítios onde não vivi, onde passo férias ou onde passo uma temporada tento sempre apanhar alguma coisa da música local e isso, misturado com a música que eu ouço, resulta na música que faço que anda um pouco entre o blues, o rock e o folk com algumas influências próprias do fado português pois neste cantinho de que tanto gosto temos a guitarra portuguesa que igualmente admiro. Gosto portanto de misturar isto tudo.
XM – Quais as principais influências do Frankie Chavez?
FC – Tenho muitas influências pois desde muito novo ouvia os discos dos meus irmãos mais velhos. Ouvia desde AC/DC a Jimi Hendrix, Blur... Ao nível dos guitarristas gosto muito do Vicente Amigo, do Jack White, do guitarrista dos Pink Floyd, David Gilmour. Portanto as minhas influências são uma mescla de tudo isto.
XM – Quando começou esta caminhada pelo mundo da música? Qual a sua formação nesta área?
FC – Eu tive aulas quando era mais novo. Comecei a aprender guitarra clássica aos nove anos. Mais tarde, aos treze, ainda andei um ano e meio no conservatório mas a partir daí passei a ser autodidata. Fui tentando aprender com os músicos que ia ouvindo e com as bandas que ia conhecendo. Aprendi a "sacar" músicas de ouvido e depois nunca mais parei.
XM – De todos os trabalhos que realizou e dos álbuns que editou até ao momento, há algum que o tenha marcado mais a si como músico?
FC – Gostei muito de fazer a banda sonora do "Pára, Escuta e Olha", um documentário do Jorge Pelicano que saiu em 2010, se não estou em erro. Apesar de esta banda sonora não ter sido editada, conto ainda vir a fazê-lo pois é um trabalho que gostei muito de fazer. Também gosto muito deste meu último trabalho, "Heart & Spine", pois considero que revela muito daquilo que a minha música é agora. Se forem assistir ao vivo poderão comprová-lo.
XM – A gravação do seu primeiro EP, em 2010, foi um marco importante na sua carreira?
FC – Sim. Foi importante porque foi o primeiro trabalho que gravei em estúdio que tenha sido editado. Já tinha feito outras coisas mas assim com umas gravações um pouco precárias. A gravação deste EP nos estúdios da Valentim de Carvalho acaba por ser o início da minha carreira, propriamente dita. Portanto é claro que foi um marco importante.
XM – Em 2011 grava o seu primeiro álbum de estreia intitulado "Family Tree". O convite a Nelson Carvalho para gravar, misturar e produzir e ao Kalú (Xutos & Pontapés) para tocar foram iniciativas que partiram do Frankie ou uma ideia partilhada com a editora?
FC – O "Family Tree" foi uma edição de autor, logo não havia editoras envolvidas. O trabalho partiu de mim. Como já tinha gravado o EP pela Optimus Discos com o Nelson Carvalho, lembrei-me que seria um bom produtor para o "Family Tree". O convite ao Kalú surgiu na altura que estava a gravar. Eu tinha-o conhecido na altura da apresentação do meu 1º EP e mais tarde resolvi convidá-lo para a gravação de um tema que tinha muito a ver com ele.
XM – Tem pisado centenas de palcos em Portugal e no estrangeiro, destacando-se atuações em países como o Canadá, Estados Unidos, México, Alemanha, Holanda, Itália, Espanha e França. Qual a reação do público à sua música tendo em conta as suas diversidades culturais? A sua música chega mais facilmente a algum destes países do que a outros?
FC – Lembro-me da reação das pessoas no México. Num festival onde imperava a música latina, aparece lá um português a tocar blues (risos)... Mas desde que o concerto começou até terminar, o público esteve sempre comigo. Foi impressionante. Senti-me abraçado pelo público desde o início do concerto. As pessoas foram impecáveis e estavam ali mesmo para ouvir música. Sentia-se isso. Agora, mais recentemente, estive na Alemanha num festival de blues e, num concerto às três da tarde, as pessoas também estavam muito recetivas à música. Embora estes dois públicos que referi fossem muito diferentes, ambos eram muito calorosos. Há sempre concertos que correm melhor e outros pior mas, de uma forma geral, as pessoas têm gostado. O público tem aderido. O meu género de música é abrangente porque misturo o rock com o folk, com músicas calmas, com outras mais poderosas e, por outro lado, como são cantadas em inglês, tudo se torna mais fácil no que concerne à abrangência de públicos aos quais posso chegar. Posso alcançar assim a um maior número de países. Tenho estado mais em Itália ultimamente e tenho sido muito bem recebido.
XM – Fale-nos agora um pouco deste último álbum, «Heart & Spine». Trabalhar com a Universal Portugal responsabiliza-o mais?
FC – Na verdade, a Universal entrou neste processo numa fase já terminal. O disco já estava todo gravado e misturado. Estava em fase de masterização e foi aí que recebi o convite da Universal para trabalhar com eles. O meu envolvimento com a Universal é somente no campo da distribuição e da promoção. A edição ficou do meu lado. Claro que é ótimo trabalhar com uma estrutura como a Universal com uma imensa experiência e onde posso beneficiar do know-how deles. Isso é ótimo. Faz com que eu sinta que tenho de mostrar ser mais responsável (risos)... No entanto, para comigo mesmo, adoto cada vez mais uma postura responsável para provar a mim mesmo que as coisas estão a evoluir. Neste sentido, eu vejo o aparecimento da Universal como uma evolução do meu trabalho que me responsabiliza um bocadinho mais.
XM – Como tem sido a reação do público neste primeiro mês de lançamento?
FC – Cá em Portugal ainda não tive muitos concertos desde que saiu o disco. Apenas fiz algumas FNAC's, quatro ou cinco, e fiz o concerto do Rock in Rio. Agora vou ter mais datas. Vou ter o "Super Bock Super Rock" e vou ter outros festivais que entretanto foram marcados mas a adesão tem sido boa. Lembro-me por exemplo do Porto em que, na FNAC, correu muito bem.
XM – Sendo considerado multi-instrumentista, temos alguma curiosidade em saber quais os instrumentos musicais que domina... Pode partilhar connosco?
FC – Sim posso... na verdade, o instrumento que melhor domino é a guitarra. Toco várias guitarras e com diferentes afinações. Uma das coisas que me dá mais gozo é explorar a guitarra nas suas várias vertentes desde o som, a afinação, os diferentes efeitos... Toco guitarra elétrica, guitarra acústica, guitarra clássica, guitarra portuguesa. Toco também baixo por inerência da guitarra, algumas coisas na bateria mas na verdade o meu instrumento é a guitarra. A designação de multi-instrumentista advém do facto de eu tocar muitas guitarras.
XM – Muito obrigado por ter aceitado o nosso convite. Para terminar gostaríamos que, partindo da sua experiência e das suas inúmeras viagens, nos desse a sua opinião relativamente ao estado da música portuguesa. Sente muitas diferenças entre o trabalho que se desenvolve em Portugal, no âmbito da música, e aquilo que vê ser feito lá fora?
FC – Cada vez menos. É claro que noto diferenças pelos sítios por onde tenho passado mas em termos de qualidade não se nota que sejam superiores. Penso que a música portuguesa está a passar por um dos melhores períodos desde que me lembro de ouvir música. Temos excelentes bandas de reggae, excelentes bandas de rock, excelentes bandas eletrónicas, temos ótimos DJ's. Portanto até acho que a música portuguesa não está diferente daquilo que vejo lá fora. Eu tenho ouvido muita música lá fora e assiste-se a muita coisa má e a muita coisa boa. Em Portugal, sinceramente, só tenho assistido a coisas boas (risos). Daquela malta que eu conheço melhor que está aí a gravar discos e com quem eu me cruzo nos festivais, todos estão a produzir com grande qualidade. Considero que estamos a passar por um ótimo período na música portuguesa.
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