Tiago Coimbra em entrevista ao XpressingMusic
Tiago Patrocínio Coimbra nasceu em Vila Nova de Gaia iniciando os seus estudos de oboé na mesma cidade. O nosso entrevistado foi premiado em vários concursos nacionais e internacionais, dos quais se destacam Barbirolli Oboe Competition (Ilha de Man, Reino Unido), Concurso de Música Contemporânea de Zurique, Concorso per Giovani Interpreti Cittá di Chieri (Turim, Itália), Prémio Jovens Músicos e o "I Concurso de Composição Musical de Vila Nova de Gaia". Foi bolseiro das fundações suíças LYRA, C.A. Kupper, Fritz-Gerber, Bruno-Schuler, Zangger-Weber, Gamil e Freundeskreis ZHdK. Tiago Coimbra ocupará a partir da próxima temporada a posição de oboé solista na Göttinger Symphonie Orchester, na Alemanha.
XpressingMusic (XM) – Tiago, agradecemos desde já a prontidão com que aceitou o nosso convite para esta entrevista. Quando começou a nascer em si o gosto pela música? O Oboé foi sempre o seu instrumento de eleição?
Tiago Coimbra (TC) – Obrigado pelo convite. O gosto pela música foi-me transmitido pelo meu pai, que apesar de não ser músico profissional, tem uma enorme paixão pela música. Inicialmente comecei por estudar piano, mas aos onze anos troquei-o pelo oboé, pois foi o instrumento de sopro que mais me fascinou na altura.
XM – Iniciou os estudos de oboé no Conservatório de Gaia com Saul Silva e Ana Madalena Silva. Considera terem sido fundamentais, estes dois nomes, para as opções que tem vindo a tomar ao longo da sua vida académica?
TC – Foram dois professores muito importantes, que me incutiram bases sólidas e a quem tenho muito a agradecer. O Professor Saul Silva, que durante muitos anos foi solista da Orquestra da Emissora Nacional do Porto, foi o meu primeiro professor e a ele agradeço todo o bom gosto musical que me transmitiu, a expressividade e sua conceção de música. Dizia-me ele, quando eu tinha 13 e 14 anos que eu tinha de fazer chegar a música ao coração de quem me ouvia. Hoje compreendo bem melhor as suas palavras.
XM – Frequenta o mestrado solista com Emanuel Abbühl na Hochschule für Musik Basel... Qual a razão, ou quais as razões, que o levaram a optar por prosseguir os seus estudos fora de Portugal?
TC – Em 2007 conheci Thomas Indermühle (com quem estudei de 2008 a 2013, em Zurique) num curso de oboé, e identifiquei-me imenso com ele. Para além de um músico fantástico, é um pedagogo excecional. Para mim, nas semanas seguintes ao curso de oboé, tornou-se claro que era com ele que eu pretendia evoluir. No final do mestrado em orquestra, decidi estudar com Emanuel Abbühl, na Hochschule für Musik Basel, pois ele para além de ser um enorme solista internacional e ex-solista da Orquestra Sinfónica de Londres, tem uma classe fantástica de oboé em Basileia.
XM – Têm passado pela sua vida grandes mestres tais como Thomas Indermühle, Maurice Bourgue... Pode dizer-nos resumidamente quais os principais ensinamentos que absorveu de cada um destes nomes?
TC – Com cada mestre aprendi coisas distintas e importantes para a minha formação. Indermühle foi o meu grande professor, com quem estudei cinco anos, e que sempre me acompanhou. Eu diria que tem um dom especial para ensinar. Os seus métodos de trabalho funcionaram perfeitamente comigo, com ele reforcei as bases técnicas que tinha e trabalhei praticamente todo o repertório de oboé. Ele exige a cada aluno que domine todo o repertório, desde Couperin e Bach a Berio e Globokar, passando por Mozart, Strauss, Schumann e muitos outros. Com Maurice Bourgue vivi momentos inesquecíveis. Ele foi o professor dos meus dois professores, Thomas Indermühle e Emanuel Abbühl. O que mais importante aprendi com ele, foi a simplicidade com que toca e o respeito que tem para com os compositores, para com o que escreveram, rejeitando sempre quando algum intérprete faz algo que vá contra com o que foi exatamente escrito.
XM – Embora muito jovem, já integrou várias e prestigiadas orquestras. Pode partilhar com os nossos leitores quais as orquestras ou outras formações em que já participou enquanto músico?
TC – Tive algumas fantásticas experiências em orquestra. A mais inesquecível foi a tournée europeia em 2013 com a Gustav Mahler Jugendorchester sob a direção de Herbert Blomstedt. Mas o ano que estive como academista na Orquestra Sinfónica de Lucerna foi imensamente enriquecedor para a minha formação, bem como projetos que fiz com a Orquestra da Ópera de Zurique, Orquestra Gulbenkian, Orquestra Nacional do Porto, entre outras.
XM – Pode falar-nos um pouco da sua experiência com a harpista Carolina Coimbra, sua irmã, e também com o CODA Quintet e o Trio Fermata? A música de câmara é algo que abraça com agrado?
TC – O Trio Fermata foi o meu primeiro agrupamento de música de câmara. Tenho o prazer de trabalhar desde há muitos anos com o Fernando e Luís Costa, violoncelista e pianista, respetivamente. Ao fim de algum tempo de pausa, teremos em breve um concerto. Novidades surgirão em poucos dias! Com a minha irmã fazemos regularmente concertos. Para oboé e harpa há obras fantásticas. Graças a Heinz Holliger (oboísta) e sua falecida mulher Ursula Holliger (harpista) foram escritas imensas obras no século XX. O CODA Quintet é uma formação de quinteto de sopros clássico, com oboé, flauta, clarinete, trompa e fagote. Todos nós estudámos na Universidade de Artes de Zurique e orgulhamo-nos de a nossa estreia ter sido no palco da Tonhalle Zürich em 2013. Preparamos de momento dez obras para quinteto, pois apresentamo-nos em Setembro na 63ª edição do Concurso Internacional ARD em Munique.
XM – Já estreou obras contemporâneas de compositores como Sérgio Azevedo, Luís Carvalho, David Philip Hefti, Heinz Holliger e James MacMillan... É uma honra para o Tiago receber todos estes convites, não é?
TC – Tenho imenso gosto de poder tocar obras de compositores meus contemporâneos. E sendo alguns deles portugueses, melhor! Todo o repertório de oboé é fantástico, mas não podemos limitar-nos a tocar obras apenas do passado. Temos de tocar obras escritas nos nossos tempos. Temos a possibilidade única de trabalhar de perto com os compositores, de encomendar obras, de estar em palco com o próprio compositor. É algo que vou sempre continuar a fazer.
XM – Para terminarmos esta entrevista gostaríamos que nos dissesse qual a perceção que vai tendo de todo o trabalho que se tem vindo a desenvolver em Portugal no âmbito da música dita erudita. Para onde caminhamos, na sua opinião?
TC – Não podemos esquecer os muitos anos de ditadura que o nosso país atravessou. Anos de isolamento, em que não chegava informação sobre o que se passava no centro da Europa, a nível musical. O caminho é lento. Mas estamos a caminhar a bom passo. Não é ao acaso que temos, provavelmente, a melhor geração de músicos de sempre. Nunca antes o país teve tão bons músicos em qualidade e quantidade. Temos músicos a ocupar lugares de Orquestra em Paris, Londres, Amesterdão, Berlim, Zurique e tantas outras cidades! A principal questão que se coloca é o que fazer com os músicos que formamos. Mas isso seria uma questão para um grande e longo debate.
XM – Muito obrigado Tiago!
TC – Obrigado pelo convite!
Sistema de comentários desenvolvido por CComment