O clarinetista Juan Ferrer em entrevista na semana em que protagonizou uma masterclass na sede da Metropolitana de Lisboa...
Juan Antonio Ferrer Cerveró nasceu em Monserrat (Valência). Iniciou os seus estudos musicais na Sociedade Instructiva Musical desta localidade tendo estudado posteriormente no Conservatório Superior de Música de Valência com os professores Luis Sanjaime e José Cerveró. Foi neste conservatório superior que obteve o título de professor de clarinete com as mais altas classificações. Juan Ferrer é membro dos grupos de câmara Versus, Siglo XXI e do Quinteto de Solistas da OSG com os quais realiza vários concertos. Como docente, trabalha habitualmente com a Orquestra Sinfonica Joven de Galicia e com a Orquestra Joven Sinfonica de Euskadi. O nosso entrevistado leciona também cursos de aperfeiçoamento por toda a Galiza, Aragão, Valência, Canárias, entre outros locais. Juan Ferrer já realizou digressões por toda a Espanha, Itália, Portugal, Alemanha, Áustria e América do Sul.
XpressingMusic (XM) – Juan Ferrer, muito obrigado por ter aceitado conceder-nos esta entrevista. Luis Sanjaime e Jose Cerveró foram os grandes impulsionadores para que optasse por ter uma carreira exclusivamente musical, ou já era algo decidido desde muito cedo na sua vida?
Juan Ferrer (J.F.) – Era algo pessoal que tinha decidido que desde a minha infância.
XM – Juan Vercher, José Vicente Herrera, Larry Passin, Keith A. Macleod, Andrew Marriner, Walter Boeykens, Larry Passin, Joan Enric Lluna, Anthony Giglioti, Guy Deplus, Roy Yowyt e Jehuda Gilad são nomes indissociáveis do seu percurso de formação. Quais as principais características que absorveu de cada um destes mestres?
J.F. – No caso de Juan Vercher o que mais se destacou no seu trabalho foram os aspetos ligados à disciplina e à técnica. Falemos também de Jose Vicente Herrera que foi o primeiro professor a trabalhar de uma forma especial (fora do conservatório) e foi o primeiro professor que me disse que era muito importante para mim ouvir música (quase mais importante do que tocar). Larry Passin foi o primeiro professor que me falou sobre a Orquestra Sinfónica, Anthony Giglioti foi o exemplo mais claro da escola americana, também aplicado à Orquestra (andamentos, afinação, controle), mas, para mim, com falta de intencionalidade, de expressão e emoción. Guy Deplus foi um professor que me falou sobre o som, a intencionalidade e de como tocar em público. Jehuda Gilad, embora fosse da Escola Americana, era um professor que abordava de tudo um pouco. Abordava aspetos técnicos, mas também aspetos ligados à interpretação. (Ele trabalhava de acordo com as características do aluno).
XM – Nos dias 26 e 28 de fevereiro realizou na Metropolitana, uma masterclasse de clarinete culminando esta iniciativa com um concerto final inserido na Temporada de concertos "Le Foyer", da Escola de Música do Conservatório Nacional. Como surgiu esta oportunidade de trabalhar com músicos e instituições portuguesas?
J.F. – Tenho trabalhado bastante em Portugal ultimamente. Vir a Lisboa foi algo que surgiu depois de conhecer o Professor Nuno Silva (Grande amigo) numa das tournées da minha Orquestra (Sinfónica de Galicia). Ele convidou-me para um encontro internacional de clarinete de 2010 ou 2011 (se bem me recordo). Foi neste encontro que me conheceram e depois me convidaram.
XM – Em 1994 e 1995, foi selecionado pelo professor Jehuda Gilad, obtendo duas bolsas para estudar na University of Southern California com os professores Mitchell Lurie, Jehuda Gilad e Michelle Zuckovsky. Foram importantes para o Juan estas experiências? O que destaca destas passagens pela University of Southern California?
J.F. – O mais curioso da minha carreira é que me deram esta oportunidade de estudar na Califórnia selecionando-me para a bolsa, e embora tenha estudado com Jehuda Gilad (que foi quem me selecionou) acabei por não ir estudar para a California. O motivo foi a minha mulher dizer-me que se queria casar (curiosa a força de uma mulher)... De qualquer forma, para mim, o mas importante desta experiência foi ser selecionado e ter uma bolsa da Universidade de 9000 dólares no ano de 1993 (não pelo dinheiro). Não ir para a Califórnia fez com que me fechasse comigo mesmo a trabalhar como músico. Tive que passar a ser mais exigente com a minha carreira onde fui mais autodidata de uma forma geral pois não tive nenhum professor que me tenha marcado muito. Isto tem uma parte boa e outra má. A má é que, quando estamos em formação necessitamos de professores sólidos e exigentes. A parte boa é que ganhas personalidade própria e és tu em todos os momentos e não o aluno deste ou daquele professor.
XM – Ao longo da sua carreira enquanto solista da Orquestra Sinfónica de Galicia e enquanto músico em óperas e em projetos de música de câmara tem tido o privilégio de trabalhar com grandes maestros... Pode destacar aqui alguns destes nomes que passaram pela sua vida?
J.F. – Sim. Trabalhei com grandes maestros tais como: Daniel Harding, Lorin maazel, Peter Maag, Mauricio Pollini, Osmo Vanska, Ghennadi Rozddesvenski, Giannadrea Noseda, Stanislaw Skrowaszeski, Jesus lopez Cobos, e com solistas tais como: Anne-Sophie Mutter, Krystian Zimmerman, Maria Joao Pires, Mauricio Pollini, Gil Shaham, Mischa Maiski, Placido Domingo, Alfredo Kraus, Teresa Berganza, Mirella Freni,Sokolov, Arcadi Volodos, entre muitos outros...
XM – Pode falar-nos agora um pouco dos seus projetos de música de câmara?
J.F. – O projetos de música de câmara com os quais trabalho são o Quinteto (sopros) de Solistas de la Sinfónica de Galicia, Trío Untía Violonchelo, Piano, Clarinete. Grupo instrumental S XX. A música de câmara permite-me viver a música num outro contexto. Tenho previsto interpretar num futuro próximo: Cuarteto para el fin de los tiempos: Mesiaen, trí Brahms... Quintetos de Brahms, Mozart, Quintetos de Viento: Nielsen...
XM – Mais uma vez, muito obrigado por nos ter dedicado um pouco do seu tempo. Para terminar, gostaríamos de lhe perguntar se poderia deixar algum conselho aos jovens que agora iniciam a sua aprendizagem num instrumento musical... Quais as principais virtudes que devem acompanhar um estudante de música?
J.F. – Vocação, disciplina, força mental, sensibilidade, rigor, expressão, versatilidade, energia, pensar a música interiormente desde o início (é mais importante do que tocá-la).
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