Sofia Gomes em entrevista ao Portal do Conhecimento Musical
Sofia Margarida Ermida Gomes nasceu em Vila Nova de Famalicão a 13 de maio de 1986. Aos nove anos de idade inicia a sua aprendizagem musical pelo piano, entrando posteriormente, em 1998, para a Escola Profissional Artística do Vale do Ave – Artave, para a classe de violoncelo do professor Jan Pipal. Em orquestra já foi dirigida por nomes como Jean Marc Burfin, Michael Zilm, Joana Carneiro, Jean-Sébastien Bérau e Pablo Heras Casado. Nesta entrevista passearemos entre a vida desta jovem violoncelista que se divide entre os palcos, onde atua enquanto performer, e as salas de aula, onde leciona e partilha as suas experiências.
Sofia, muito obrigado por ter acedido desde a primeira hora em colaborar com o XpressingMusic na realização desta entrevista. Embora a conheçamos hoje como violoncelista, a sua aprendizagem musical não começou pelo violoncelo... Pode partilhar com os nossos leitores o porquê de ter começado os seus estudos pelo piano? A paixão pelo violoncelo veio posteriormente?
Antes de mais gostava de agradecer o contacto para esta entrevista para partilhar o meu percurso como músico e docente. Respondendo à questão, o gosto pela música nasceu bem antes das aulas de piano. Desde os meus três anos que a música fazia parte do meu quotidiano. A voz foi o meu primeiro instrumento. Sempre gostei de cantar e da parte teatral que vinha no seguimento dos mini espetáculos que fazia no infantário e em casa. O gosto pela música foi crescendo e houve uma necessidade de aprender um instrumento. A escolha inicial foi o piano. Aos 12 anos candidatei-me à Escola Profissional - Artave para ser mais fácil conjugar o plano curricular do ensino regular com o do ensino musical. Após provas de seleção e aptidão, o violoncelo foi o instrumento escolhido. A entrega não foi imediata; o tamanho e o peso do violoncelo foram algumas das condicionantes iniciais que tardaram o aparecimento da paixão pelo instrumento.
Jan Pipal e António Ferreira foram nomes preponderantes para que hoje seja uma violoncelista profissional?
Sem dúvida. Jan Pipal foi o meu primeiro professor de violoncelo e, apesar de hoje em dia eu identificar algumas lacunas cometidas durante o meu percurso inicial, estou grata pela sua dedicação e por ter visto em mim uma potencial violoncelista. António Ferreira foi o meu segundo professor de violoncelo. Era um professor com muita energia, com uma metodologia inovadora, que explorava ao máximo as minhas capacidades, sempre com a máxima exigência. Hoje em dia recordo-o nas minhas aulas e recorro a material que me cedeu para usar com os meus alunos.
O facto de entrar em 2004 para a Academia Nacional Superior de Orquestra, na classe do professor Paulo Gaio Lima, trouxe-lhe grandes oportunidades... Concorda?
Sim. O ser aprovada na classe do professor Paulo Gaio Lima foi a minha primeira vitória enquanto violoncelista. Vários master classes contribuíram preponderantemente para que Paulo Gaio Lima se tornasse o professor no topo das minhas prioridades. Considero-o um exemplo como professor, instrumentista, amigo e sobretudo como ser-humano. A evolução, a interpretação, a técnica, a paciência, o método, o gosto de ensinar, foram as grandes qualidades e ferramentas que Paulo me transmitiu.
Frequentou Master Classes com os professores Paulo Gaio Lima, Daniel Müller Schott, Lenian Benjamins, Jed Barahal, Clélia Vital, Wolfgang Boettcher, Márcio Carneiro, Dmitri Ferschtman e Peter Wiespelwey. O que “bebeu” em cada uma destas fontes? Em que medida se espelham estas influências naquilo que hoje produz?
Os Master Classes são, sem dúvida, experiências fantásticas enquanto ouvinte e participante. Com todos os professores acima mencionados adquiri ferramentas que me fizeram crescer como músico ou como professora. Ouvi não só ideias musicais e técnicas contraditórias, mas também as mesmas metodologias transmitidas de diferentes formas.
Se em orquestra teve oportunidade de trabalhar com grandes mestres, não menos verdade é que em música de câmara essa oportunidade também existiu... Concorda?
Tocar em música de câmara é uma paixão desde sempre. Partilhar música em duo, trio, quarteto é algo que me dá imenso prazer. Acrescento às minhas vivências e experiências marcantes as várias formações e pessoas que partilharam palcos comigo, que me fizeram sem dúvida crescer enquanto músico e intérprete. Relembro um desses momentos no Palácio Foz, no meu último exame de Música de Câmara, que partilhei o palco com dois amigos. Tocámos o Trio de Schubert op. 100 e, para além da bela música que interpretávamos e da ligação de amizade com os membros do trio, o entusiasmo e emoção de ser o último exame da licenciatura tornou o momento especial e inesquecível.
Em 2008 foi convidada para lecionar na classe de violoncelo Suzuki do Conservatório Metropolitano de Lisboa e no Conservatório de Música e Artes Dramáticas de Lisboa. Foram as suas primeiras experiências enquanto docente?
Sim. Ainda estava a concluir a licenciatura quando recebi o convite para lecionar no Conservatório da Metropolitana. Foi com grandes expectativas que recebi tal desafio. Inicialmente tive uma formação com a professora Catarina Anacleto (atualmente diretora pedagógica do Conservatório de Música e Artes Dramáticas de Lisboa), e depois de algumas aulas assistidas comecei eu mesma a lecionar. Desde as primeiras aulas que o meu interesse pelo ensino foi visível e a sede de ver resultados nos alunos aumentava a cada aula que dava.
Já com outra maturidade ao nível do ensino, entra em 2011 como docente na Escola de Música do Conservatório Nacional. Que sentimentos se apoderaram de si quando conquistou este lugar?
Posso dizer que profissionalmente foi um dos dias mais felizes. Dado que desde as primeiras aulas o ensino me despertou grande interesse, o facto de ter conquistado esse lugar através do meu trabalho e da minha paixão foi uma enorme recompensa. O Conservatório é um lugar maravilhoso, que respira música por todo o lado. Cresci muito enquanto docente e a minha entrega como professora foi enorme, a qual se refletiu em vários prémios em concursos nacionais e internacionais, obtidos pelos alunos da minha classe.
Tendo em conta que também foi em 2011 que começou a fazer parte de uma lista de reforços regulares da Orquestra Sinfónica Portuguesa e que participou em quarteto nos concertos didáticos no Cinema São Jorge com a colaboração da revista Pais & Filhos, podemos dizer que este foi um grande ano para a Sofia Gomes, não foi?
Sem dúvida. Foi um ano marcante e espero que muitos anos destes apareçam pela frente que, com trabalho e dedicação, são merecidos.
Para além do mestrado em pedagogia do instrumento que se encontra a concluir, o que a ocupa no campo da docência e enquanto instrumentista neste momento? Em que projetos se encontra envolvida?
Neste momento, a nível de ensino, leciono Violoncelo no Curso Integrado de Música da Casa Pia, um projeto do qual adoro fazer parte, e sou coordenadora da classe de violoncelo do Conservatório da Metropolitana. Ambos os projetos absorvem grande parte do meu tempo. Em música de Câmara tenho dois projetos atuais: Trio E n s 3 m b l e e Trio Freitas Branco.
Olhando para trás, diz hoje com convicção que valeu a pena toda esta caminhada, todo este esforço?
“Sem trabalho e dedicação não há recompensa”. É e sempre será este o meu lema. A reflexão tem que ser constante para consequentemente existir progressão. Como tal, vale sempre o esforço e o suor por aquilo que mais gostamos.
Numa altura em que assistimos a uma debandada de jovens, das mais diversas áreas, que rumam a outros países, podemos dizer que Portugal é um bom país para quem deseja estudar música?
Sinceramente penso que Portugal tem excelentes professores na área da música para diferentes níveis. Infelizmente acho que neste momento o País não oferece as saídas profissionais suficientes para os alunos que querem entrar no mercado do Trabalho. Entendo e apoio os músicos que ambicionam mais e emigram à procura de outros professores, de outras metodologias e outro tipo de mercado de trabalho.
Muito obrigado mais uma vez por nos ter dedicado um bocadinho do seu tempo. Há projetos para o futuro que possa partilhar com os nossos leitores?
Por enquanto os projetos do futuro são os que tenho no presente, mas numa versão melhorada. Terminar a minha dissertação será certamente a prioridade. Agradeço igualmente ao XpressingMusic, mais uma vez, pela oportunidade de partilha e o meu reconhecimento pela vossa iniciativa de valorizar e dar a conhecer à sociedade os músicos e profissionais desta área nas várias vertentes.
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