Helena Raposo leva-nos numa viagem pela sua vida, carreira e pelas especificidades do alaúde e da tiorba.

Helena RaposoA açoriana Helena Raposo é licenciada em Alaúde e Tiorba pelo Departamento de Música da Universidade de Évora. A nossa convidada é ainda Pós-Graduada em Práticas Históricas de Interpretação pela Faculdade de Música Antiga do Trinity College of Music de Londres.
Enquanto intérprete, Helena tem atuado com vários ensemble, tanto como solista como contínuo em Portugal e no estrangeiro. O seu repertório compreende desde a música medieval, passando pelo renascimento até ao barroco.

XpressingMusic (XM) – Helena Raposo, muito obrigado por ter aceitado esta proposta de partilhar com os leitores do XpressingMusic alguma da sua vida e algumas das suas vivências. Quando começou a despertar em si o interesses pela música? Luciano Lombardi, Gianna de Toni, Hamilton Gonçalves e Paulo Amorim foram os principais responsáveis por ter entrado tão profundamente no meio musical?

Helena Raposo (H.R.) – Antes de começar, desejo um Bom Ano para todos e agradeço o vosso convite! O meu interesse pela música acho que remonta ao dia em que nasci, pois fui criada num meio onde sempre tive um contacto muito próximo com música, de forma amadora, é certo, mas era algo que fazia parte do dia-a-dia da família. Os meus professores de instrumento (Guitarra Clássica), na altura, foram os impulsionadores de tudo Helena Raposoo que aconteceu na minha vida profissional enquanto "performer".

XM – Qual ou quais as razões que a levaram a enveredar por uma carreira assente em instrumentos como o Alaúde e a Tiorba? A Licenciatura que realizou no Departamento de Música da Universidade de Évora abriu-lhe muitas e novas portas?

H.R. – Por acaso foi uma coincidência... Quando fui fazer as provas de ingresso para o ensino superior fiz no instrumento que estudava, a guitarra clássica, mas, naquele ano letivo, a Universidade não abriu vagas para o curso deste instrumento. Então, foi-me sugerido pelo professor de guitarra e alaúde, que eu naquele ano fizesse as cadeiras académicas e que experimentasse o alaúde, e assim foi. Apaixonei-me pelo instrumento, pelo repertório e nunca mais peguei na guitarra. Sim, deste ponto de vista, podemos dizer que a Universidade de Évora foi a incitadora de todo o percurso subsequente a este acontecimento.

XM – Porque optou por ir para Londres para fazer o Mestrado? O Mestrado em causa não existia em Portugal?

H.R. – Considero-me uma pessoa que gosta de novas vivências e de conquistar novos horizontes, aliás, posso dizer que tenho essa necessidade. A minha ida para Londres aconteceu por isso mesmo, foi uma experiência inesquecível, enriquecedora e extremamente gratificante tanto a nível pessoal como profissional.

XM – Estudou Alaúde renascentista, Alaúde barroco, Guitarra barroca e Tiorba... David Miller é para si uma referência no que a estes instrumentos diz respeito?

H.R. – Ainda bem que faz referência a este grande pedagogo e músico por excelência! Tenho a noção de que o meu percurso como intérprete de música antiga só se afirmou a partir do momento em que este se tornou o meu professor. Foi ele que me transmitiu todos os métodos e bases para me tornar uma melhor e mais versátil instrumentista e incutiu-me importantes valores que ainda hoje tento levar como pilares do meu trabalho. Agradeço-lhe muito, hoje e sempre, pelos desafios que me colocou, experiências fantásticas que me proporcionou e pelo acompanhamento que tem feito até hoje. É um verdadeiro PROFESSOR!

Helena RaposoXM – James Johnstone, Phillip Thorby, Belinda Sykes, Stephen Preston, Rebecca Miles, Alison Crum, Tim Taver-Brown e Walter Reiter foram outros nomes que apareceram na sua vida enquanto estudiosa desta área do conhecimento. O que aprendeu com cada um deles? Sente que evidencia hoje em dia muitas influências destes mestres?

H.R. – Aprendi com estes Senhores, primeiro, a respeitar a música... Desde a simplicidade da idade média até ao mais virtuosístico do barroco tardio. Todos eles são uns "monstros" de sabedoria e conhecimento. Foram todos peças fundamentais na minha formação. E sim, sem dúvida que, hoje em dia, é notória a influência destas personalidades no meu quotidiano, principalmente na minha forma de ensinar.

XM – Para além destas personalidades de que acabámos de falar, conviveu ainda com Jacob Heringman, Frances Kelly, Dr. Anne Daye, John Crawford, Dr Owen Rees, Dominique Vellard, Peter Phillips e Graham O'Reilly. O que a levou até eles? Procurava colmatar algumas lacunas que pudessem subsistir na sua formação, ou foi a sua "insaciável" sede de perfeição e de novos saberes?

H.R. – Sempre a necessidade de aprender coisas novas e ter novas experiências.

XM – A abrangência do seu reportório é considerável tendo em conta que interpreta desde a música medieval até ao barroco. Fale-nos um pouco dos seus projetos musicais e do que é que cada um deles significa para si.

H.R. – Sim, o meu repertório é bastante abrangente, além de ainda conseguir variar três ou quatro instrumentos no mesmo concerto, passando por várias épocas com características, técnicas e estilísticas tão distintas. Adoro as inúmeras possibilidades que os meus instrumentos me oferecem, inclusive de fazer projectos de câmara com agrupamentos do mais diversificado possível, tenho particular interesse quando eles assumem um papel de destaque. Relembro agora, por exemplo, a fantástica experiência que tive há dois meses, de integrar a Orquestra Europeia de Alaúdes, a convite da Lute Society, num concerto em Itália, onde estive em palco com mais de 40 alaúdes, tiorbas, arquialaúdes, guitarras barrocas... foi um momento inesquecível.

Helena RaposoXM – Para além destes projetos, ainda desenvolve uma carreira enquanto docente. Como organiza o seu tempo? Em que instituições se encontra a lecionar neste momento?

H.R. – Isto em determinados momentos torna-se complicado... Já tive que recusar projectos, porque implicava estar fora em tournée por mais de 1 mês e, como é óbvio, não posso faltar às aulas, por longos períodos de tempo. Mas tratando-se de concertos pontuais consigo fazer. Com uma boa organização concilio, bem, as duas coisas. Este ano estou a leccionar na Escola de Música do Conservatório Nacional.

XM – Para além da música, sabemos que tem outra grande paixão, a fotografia. Chegou a estudar, ou a fazer algum tipo de formação também nesta área?

H.R. – Sim, adoro fotografia, é uma maneira que tenho de escape... Gosto de estar sozinha e fazer longos passeios de muitas horas e fotografar, fotografar. Claro que, de forma muito amadora, embora tenha feito uma formação. Mas, ultimamente, não tenho tido muito tempo para "escapar"!

XM – Podemos dizer que a música e a imagem se complementam?

H.R. – Bom, são formas de arte muito distintas, não diria que se complementam entre si, mas, complementam quem as executa e pratica.

XM – Muito obrigado por nos ter concedido esta entrevista. Tem projetos para o futuro que possa revelar, totalmente ou em parte, junto dos nossos leitores?

H.R. – Eu é que agradeço esta oportunidade! Os novos projectos estão em fase de maturação, mas podem ir dando uma vista de olhos no meu site pessoal - http://helenaraposo.net.

Helena Raposo

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