Vivian Agnolo Madalozzo clarifica junto dos nossos leitores a sua visão relativamente à musicalização infantil e fala-nos dos seus projetos.
Vivian Agnolo Madalozzo professora de Musicalização Infantil e professora colaboradora do curso de Licenciatura em Música da Faculdade de Artes do Paraná. A nossa entrevistada é Mestre em Música – Educação Musical, Cognição e Filosofia da Música pela Universidade Federal do Paraná. Trabalha com Musicalização há mais de 10 anos e tem ministrado cursos de formação de professores em diversas cidades do Paraná. Tem-se notabilizado na área da musicalização infantil...
XpressingMusic (XM) – Muito obrigado por nos dar esta oportunidade de conhecer melhor o seu trabalho. A Vivian tem um longo currículo na área da educação musical pois para além de ser formada em Música-Educação Musical pela Universidade Federal do Paraná, na mesma instituição lecionou nos cursos de Musicalização Infantil. Esta área sempre foi a sua grande paixão?
Vivian Agnolo Madalozzo (V.M.) – Sim, definitivamente. Aos 3 anos de idade ganhei um quadro negro de presente e a partir dali já sabia que seria professora. Não me lembro de ter cogitado outra profissão. Ao iniciar meus estudos no conservatório, com 9 anos, decidi que gostaria de lecionar música. Com a graduação em Educação Musical, já aos 18 anos, comecei a trabalhar no curso de Musicalização Infantil que foi criado – e administrado por 6 anos – pela Professora Beatriz Ilari e então decidi que as crianças é que seriam o meu foco de trabalho. Desde então tenho trabalhado na área e já são 13 anos de profissão, com muito orgulho.
XM – É coautora do livro "Fazendo Música com crianças". Que características deve ter uma obra deste género? A quem se dirige?
V.M. – O livro foi idealizado por um grupo de alunos da graduação, que trabalhava como professores da Musicalização Infantil na Universidade. Foi pensado como uma obra de atividades musicais, de fácil compreensão para o público. É um livro com diversas atividades... partituras, áudios, sugestões de adaptação adequadas a cada faixa etária. O livro dirige-se a todos os apaixonados por música e crianças!
XM – Ainda em 2008 participa, enquanto intérprete, no CD "O pião entrou na roda: cantos e contos de todos os cantos". É uma defensora da máxima de que a música tradicional de cada país deve fazer parte da educação musical das crianças?
V.M. – Sim, com certeza. O repertório tradicional brasileiro é rico em ritmos e melodias. Penso que é fundamental que as crianças conheçam o repertório de seu país. No entanto, acredito sempre no equilíbrio: há que se apresentar músicas diversificadas aos pequenos, para que eles adquiram repertório suficiente para, no futuro, dizerem aquilo de que gostam mais.
XM – A Vivian não se limita o seu trabalho ao que desenvolve com as crianças pois também ministra cursos de Formação de Professores, como já fez em Maringá, Guaratuba e Antonina, São José dos Pinhais, Curitiba e Salvador. Para além disso tem trabalhos publicados em Seattle (EUA), Frascatti (Itália), Curitiba, Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Sente-se uma privilegiada por ter ao seu alcance e de forma espontânea o seu objeto de estudo? O seu projeto pessoal "Alecrim Dourado" também é o seu "laboratório"?
V.M. – A escola Alecrim Dourado é, sem dúvida, um laboratório. É um espaço de formação musical, onde todas as atenções estão voltadas à linguagem musical e ao desenvolvimento dessa linguagem no quotidiano infantil. Todos os espaços da escola foram concebidos para que as crianças se sintam à vontade e queiram fazer música. A prática instrumental é ação obrigatória em todas as aulas, dos bebés às crianças maiores. Sinto-me privilegiada por ter encontrado em meu caminho pessoas chave que me ajudaram tanto na área pessoal como profissional. O meu objeto de estudo atual é também minha maior alegria.
XM – Em 2013, teve o seu capítulo "Planejamento na musicalização infantil", escrito com Tiago Madalozzo e publicado pela Editora Papirus no livro "Música e educação infantil". Sente que o seu trabalho tem vindo a ser reconhecido pelos seus pares?
V.M. – Acredito que ainda há muito a ser feito, não se pode dizer que o trabalho já está reconhecido. A comunidade académica é bastante diversificada e há espaço para todos os pensamentos e ações possíveis. No entanto, tenho tentado discursar sempre a favor da educação musical infantil e essa ainda é uma área pequena dentro da educação musical em geral. As pessoas ficam um pouco receosas – e desconfiadas – com o ensino de música para bebés e crianças, e ter a oportunidade de falar desse trabalho num livro com duas organizadoras tão competentes foi excelente não só para a minha carreira, mas também para a minha vida pessoal.
XM – Como nasce o projeto Alecrim Dourado e em que se diferencia este projeto de outros que também se dedicam à musicalização infantil?
V.M. – A "Alecrim Dourado" nasceu quando o programa de Musicalização Infantil da UFPR já estava finalizando as suas atividades. Numa conversa com o Tiago Madalozzo, decidimos que era hora de investir emocional e financeiramente num projeto que continuasse a valorização da formação musical de bebés e crianças. Foi então que desenvolvemos a "Alecrim Dourado Formação Musical", que é uma escola de Musicalização Infantil. Diferente dos conservatórios tradicionais, aqui, a Musicalização Infantil é a "menina dos olhos". Pensamos em todos os detalhes físicos e musicais, para que as crianças se sintam bem e para que a aprendizagem ocorra da maneira mais divertida possível. Aqui em Curitiba, existem várias outras escolas – e conservatórios – que oferecem aulas de Musicalização Infantil, mas o nosso diferencial é a nossa formação académica e contínua – tanto eu quanto o Tiago somos mestres e continuamos publicando artigos e pesquisas sobre Musicalização Infantil. Além disso, optamos por ter turmas pequenas – até 6 alunos acompanhados dos pais e até 8 alunos, com 2 professores –, para que possamos dar a atenção devida a cada habilidade das crianças.
XM – Como se organiza o vosso currículo?
V.M. – Minha formação musical iniciou-se em órgão eletrônico, aos 9 anos de idade. Paralelamente, fiz Canto Coral e descobri que precisava tocar um instrumento que me possibilitasse também cantar. Aos 15 anos, iniciei meus estudos no violão, justamente por estar numa nova experiência profissional que me impossibilitava tocar órgão: a sala de aula. Então, aos 18 anos, mudei-me para Curitiba para cursar a graduação em Educação Musical pela Universidade Federal do Paraná. Inicei o trabalho em diversas escolas de Curitiba, mas mantinha o trabalho no curso de Musicalização Infantil. Em 2010, nasceu a "Alecrim Dourado Formação Musical" e no ano seguinte eu inicei meu mestrado em Música, na linha de Educação Musical, Cognição e Filosofia da Música, pela mesma universidade, sob orientação do Prof. Doutor Guilherme Romanelli. A partir daí surgiram convites para cursos de capacitação de professores em diversas cidades do estado. Desde agosto de 2013, sou professora colaboradora da Universidade Estadual do Paraná – Campus da Faculdade de Artes do Paraná, no curso de Licenciatura em Música.
XM – Considera que a grande maioria dos pais brasileiros estão sensibilizados para a importância da música na vida das crianças?
V.M. – A maioria não, mas acho que estamos no caminho para que isso aconteça brevemente. Prova disso é a crescente procura que temos na nossa escola, que oferece formação musical desde os bebés até às crianças de 8 anos. Acredito que as pessoas estão mais conscientes do seu papel de "pais" e de formadores... E os pais que reconhecem a importância da música na vida dos seus filhos são, certamente, pessoas mais abertas.
XM – Agradecemos mais uma vez o tempo que nos dedicou. Para terminar gostaríamos que nos falasse dos seus projetos para o futuro... Expandir o Alecrim Dourado para outras áreas geográficas é uma possibilidade?
V.M. – A Alecrim Dourado é um sonho concretizado que tem crescido a cada ano e que demanda muita energia – emocional, pessoal e física. Quando iniciámos este projeto, tínhamos muito clara a ideia de que não queríamos que as crianças fossem tratadas como um número de matrícula ou como "mais um aluno". Optámos por conhecer todos os alunos pessoalmente, chamá-los pelos seus nomes e observarmos suas evoluções e habilidades. Atualmente, contamos com outros professores de Musicalização que são grandes parceiros nas aulas, mas sentimos que a escola ainda precisa de nós. Ter outra "Alecrim Dourado" não é o plano a curto prazo, precisamos ainda investir nesta aqui, que está crescendo. Mas não é um plano descartado. É preciso continuar a divulgar a Musicalização Infantil e a Formação Musical pelo país afora.
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