Isabel Dantas fala-nos da "Chave do Som" e dos seus projetos...
Isabel Dantas proporciona-nos uma viagem pelos projetos da "Chave do Som". Desde 1994 a aposta na qualidade tem sido uma constante, que se efetiva na competência de todos os artistas que representa e nas equipas técnicas que a apoiam.
Do portfolio da "Chave do Som" destacam-se as produções das Comemorações do 25 de Abril no Porto em 1996, o Festival da Juventude de Vila do Conde em 2002 e as Noites do Rivoli em 2010. Já representou bandas como os "Ornatos Violeta", os "Clã", e os "Blind Zero".
Atualmente a "Chave do Som" acolhe bandas e artistas como "A Jigsaw", "Best Youth", "Che Sudaka", "emmy Curl", "Jafumega", "Mão Morta" e "X-Wife". Foi sobre estes e outros projetos que falámos ao longo de uma hora muito bem passada na sede da "Chave do Som".
XpressingMusic (XM) – Começando por agradecer ter aceitado o nosso desafio para esta entrevista, que será publicada no dia do aniversário do XpressingMusic, gostaríamos que nos falasse da génese da "Chave do Som". Como começou este projeto? Era um sonho antigo?
Isabel Dantas (I.D.) – Antes de iniciar este projeto, eu dava aulas de música. Comecei por dar aulas na Escola de Jazz do Porto e gostava muito mas, entretanto, fui dar aulas para o ciclo preparatório e não me dei nada bem. Lidar com alunos muito novos não era o meu forte... Foi então nessa altura, existindo já o sexteto do Mário (Sexteto Mário Barreiros), que eu e a minha sócia, que era a Sílvia, casada com o Raúl Marques que liderava o projeto "Raúl Marques e os Amigos da Salsa" começámos. Agenciávamos portanto estes projetos. Cheguei ainda a fazer a programação no antigo Heritage, onde tínhamos as quartas-feiras de Jazz. Em junho de 1994 nasce a "Chave do Som" passando a dedicar-me inteiramente a esta atividade de agenciamento.
XM – Qual é o principal critério tido em conta para a seleção das bandas e artistas que representam?
I.D. – No meu caso... como já trabalhei com Jazz... não sei se podemos dizer que o critério será o do género musical. Comecei por trabalhar com os "Clã" em 1994. Trabalhei também com os "Ornatos Violeta". Acabámos por iniciar um trabalho com formações desta área musical pois no campo do Jazz, os músicos tocavam em vários projetos diferentes, dificultando assim a criação de uma agenda para esses projetos. A marcação de datas estava sempre condicionada ao facto de um músico estar ou não disponível, pois poderia ter já espetáculo com outro projeto... Com as bandas de Pop-Rock começámos a crescer e a ir naturalmente por aí... Daí termos mais bandas de Pop-Rock do que propriamente de outro estilo. Quanto ao critério, para além da qualidade, gosto de projetos onde eu veja que existe a perspetiva de uma carreira, começando por vezes um projeto pequenino que nós vemos crescer acompanhando esse percurso. Não vejo as coisas pelo lado do dinheiro. Quando olho para uma banda não penso: «isto vai dar muito dinheiro!». O que gosto mesmo é de «fazer o projeto».
XM – Quem procura quem? São as bandas que vos contactam no sentido de serem produzidas e agenciadas pela Chave do Som?
I.D. – Por acaso até são mais as bandas a procurarem-me. Mas, por exemplo, no caso da emmy Curl já não foi bem assim... O Mário andava a fazer umas misturas para um dos seus EP's da Optimus e eu gostei... Comecei a apreciar o projeto e a sentir vontade de o agenciar. No entanto a emmy já tinha um agente que lhe ia lançar o disco e eu acabei por me afastar... Entretanto ela soube do meu interesse... pois eu não vou bater à porta de nenhum artista que tenha agente...
XM – Pegando nessa deixa... Gostaríamos de saber se os projetos que agenciam estão com a Chave do Som num regime de exclusividade.
I.D. – Sim. Vocês até podem ir a um produtor ou agente de espetáculos desses que apresentam os artistas todos nos seus catálogos mas, quando lhe é pedido um espetáculo de um dos nossos artistas, terá que vir falar connosco.
XM – Já são muitos anos a agenciar e a produzir concertos... Quais as principais diferenças que nota hoje relativamente à altura em que começou este tipo de atividade? Para além da parte técnica inerente a palcos, som e luz, também as bandas e os artistas evoluíram muito... concorda?
I.D. – As condições melhoraram francamente. Desde os palcos aos sistemas de som e luz, houve uma grande evolução. No que toca a bandas, também se nota um grande crescimento que atribuo essencialmente ao aparecimento das novas tecnologias. Hoje torna-se muito mais fácil gravar. Há uns anos, para se gravar um disco, tinha que se ir a uma editora mostrar o seu trabalho. Era muito complicado... Hoje em dia é muito mais fácil gravar qualquer coisa e colocar na internet. As redes sociais e principalmente o YouTube tornaram-se ferramentas de divulgação muito boas.
XM – Gostaríamos de falar agora um pouco sobre cada um dos projetos produzidos pela Chave do Som. Começamos pelo projeto "A Jigsaw". De Coimbra e com mais de dez anos, inspirados pela música popular norte-americana, João Rui e Jorri apresentam-nos um projeto muito original. Fale-nos um pouco deste projeto... Como os descobriu?
I.D. – Foi uma banda que me procurou, aliás já me tinha procurado há algum tempo fazendo-me pensar e constatar que às vezes se torna muito complicado ouvir todos os projetos que nos enviam... Quando um projeto é grande, é fácil fazer uma análise rápida do alcance que o projeto ainda pode ter... O arranque de um grupo é muito complicado... estarmos a ver se realmente vale a pena todo o investimento que se faz pois requer um enorme esforço. Quando é um projeto mais alternativo, ainda pouco conhecido tudo se torna mais complicado mas esse é o trabalho que eu gosto de fazer. Há muitos projetos que nos procuram e que necessitam do nosso trabalho, ou seja, que lhes arranjemos concertos... Todos os dias recebo inúmeros... Torna-se muito complicado, senão impossível, ouvir todos e avaliá-los.
XM – Podemos então dizer que os grupos querem é tocar? O CD não passa de um mero cartão-de-visita?
I.D. – Exatamente! É dos concertos que os músicos retiram os seus dividendos, o que neste momento também está muito mau!!
XM – Voltando ao projeto "A Jigsaw"... É um projeto muito singular. Concorda?
I.D. – Sim. Eles têm tocado muito lá fora, mais até do que em Portugal, embora também façam concertos por cá. Espera-se agora um novo trabalho deles pois este disco já rodou muito - 2 anos desde o seu lançamento. É difícil com o mesmo disco, não havendo nada novo, fazer mais concertos. Portugal é pequeno e este é um projeto que roda num circuito mais vocacionado para salas de espetáculo...
XM – A "Chave do Som" representa-os também fora do país?
I.D. – Não. Não é comum, embora o pudesse fazer... Em Espanha eles têm um agente, creio que na Holanda também. Não faz sentido pois tem que se conhecer cada mercado. Se eu quisesse trabalhar lá fora teria que arranjar um agente em cada um dos países. Eu não posso, por exemplo trabalhar em Espanha, sem conhecer como funcionam os festivais, quem trata, etc. Estar no país, seja ele qual for, é fundamental para se saber a que portas se deve bater.
XM – Como carateriza o projeto Best Youth? Considera que o facto de o Ed Rocha Gonçalves e Catarina Salinas se conhecerem há muito tempo transparece nas sonoridades e nas composições desta banda?
I.D. – Não sei se é por esse facto, mas que resulta, isso resulta. O entrosamento entre eles é muito grande, não posso afirmar que isso emerge do facto deles se conhecerem há muito tempo... No entanto não podemos esquecer que eles já estiveram noutros projetos em que tocaram juntos, logo, conhecem-se musicalmente muito bem. Na minha opinião, esta é uma banda com muito valor e tem margem para crescer cá e fora.
XM – Este projeto funciona com banda ou também resulta se forem só os dois?
I.D. – É um projeto que funciona bem se forem só os dois. Mas, por exemplo, nós vamos agora tocar na D'Bandada Optimus e serão convidados um baterista e um baixista. Normalmente funcionam em trio juntando-se à Catarina e ao Ed o baterista Nuno Sarafa.
XM – Os Che Sudaka de Barcelona refletem a tentativa de internacionalização da Chave do Som? Qual foi a reação do público português ao novo álbum lançado no nosso mercado em Abril de 2012?
I.D. – Eles são emigrantes ilegais... quer dizer, agora já não são ilegais... Nós é que os representamos no território português e brasileiro. Eles vivem lá e Barcelona. Uns são da Colômbia, outros são argentinos... O núcleo duro são os irmãos Leo e Kacha que são argentinos e a primeira vez que os vi foi na Festa do Avante. Achei que eram uns animadores com uma mensagem incrível. Não fui logo falar com eles, mas entretanto fui falar com o Road Manager que é português e vive lá em Barcelona e com o qual eu já trabalhei. Disse-lhe que tinha gostado muito do grupo e que conseguiria fazer alguma coisa, embora não esteja a ser fácil, com eles. Temos trabalhado no sentido de fazer alguns concertos por cá. No entanto, não temos feito tantos como desejaríamos. Aliás, ninguém tem feito tantos concertos quantos desejaria. Mas este grupo é muito diferente. É mais um estilo de músicas do mundo...
XM – emmy Curl é o exemplo vivo de criatividade aliado à juventude. Não estará dissociada desse facto, a sua visão integrada das artes. Quando ouvimos a sua música ficamos com a sensação de que esta pode ser ouvida em qualquer parte do mundo. Por outro lado surge-nos sempre a questão do mercado e da dimensão do mesmo... emmy Curl é um projeto a pensar no mercado português, ou estão na calha outros voos internacionais?
I.D. – Ela tem um universo muito próprio. Ela é que desenha a roupa, tem conhecimentos para fazer um cartaz, por exemplo este que temos aqui foi ela que o desenhou. Ela possui todo um universo que resulta numa coerência. Relativamente à questão do mercado... o mercado português é sempre muito importante pois é aquele no qual eu me mexo melhor. De qualquer forma estamos a tentar alguns contactos para fora de Portugal e já estamos a conseguir alguns concertos para fora do nosso país. No FaceBook da emmy são visíveis comentários de pessoas de todos os cantos do mundo que gostam da voz dela, o que mostra a viabilidade deste projeto para o exterior. Isto também acontece no caso dos Best Youth mostrando que estes são dois projetos fáceis de exportar.
XM – Quem diria que iríamos poder ouvir novamente ao vivo temas como «Ribeira», «Latin' América», «Kasbah» ou «Nó Cego»... Aquilo a que pudemos assistir por parte dos Jafumega nos coliseus de Lisboa e Porto recentemente vai ser reproduzido por este país fora, ou constituíram-se como pérolas únicas para mais tarde recordar?
I.D. – A ideia inicial era só fazer os concertos dos coliseus, mas de facto o projeto está ensaiado e montado com os músicos originais dos Jafumega, acabando assim por haver abertura para a marcação de algumas coisas... Alguns espetáculos poderão surgir pontualmente como o caso do Teatro Aveirense muito em breve.
XM – O conhecido projeto de Adolfo Luxúria Canibal "Mão Morta" também encontra na "Chave do Som" o seu porto seguro? Como surgiu a possibilidade de trabalharem juntos?
I.D. – Estão cá desde 2001. Não sei precisar bem a data mas quando sai a "Primavera de Destroços", foi precisamente quando eu comecei a trabalhar com eles, mais precisamente em setembro desse ano. É um grupo do qual eu gosto muito. Eles têm uma carreira já bastante longa. São, como se costuma dizer dos "resistentes". Considero-os únicos.
XM – X-Wife traz-nos novidades em 2013 ou 2014? Quanto a concertos em Portugal... vamos poder ouvi-los em breve? E internacionalmente? Para além de Estados Unidos, Espanha e Itália, há mais países por onde este projeto português possa passar entretanto?
I.D. – Sim. Iremos ouvi-los muito em breve e, quanto a concertos lá fora é muito provável que continuem, pois eles têm agenciamento também em Espanha. A manager deles está mais por dentro destas coisas. Neste caso só trato mesmo do agenciamento deles. Não falo portanto fora de portas pois é a manager que trata dos seus concertos no exterior. Cá, eles têm tocado relativamente pouco porque o disco saiu já há algum tempo e isto é cíclico... Quando sai o disco faz-se uma digressão com o disco e depois as coisas arrefecem um pouco esperando-se um novo disco. Quem diz um novo disco, diz uma nova canção, pois hoje em dia pode-se lançar uma canção num mês, outra no mês seguinte...
XM – Para além da Isabel Dantas, a "Chave do Som" conta com mais colaboradores no seu dia-a-dia... Pode apresentar-nos a sua equipa?
I.D. – Diariamente tenho a Elisa Sousa, uma colaboradora que já está cá há alguns anos, e agora tenho uma outra pessoa a meio tempo que é o Rui Silva que está a trabalhar também na área de produção na qual tem experiência. Basicamente somos nós os três neste momento.
XM – O facto de ter o Mário Barreiros ao seu lado, não só enquanto marido, mas também como sócio faz com que a "Chave do Som" apresente como vantagem a possibilidade de um trabalho integrado? Aqui é possível iniciar o produto desde a produção do disco, contando a esse nível com o trabalho de um dos maiores produtores musicais da península ibérica, (Mário Barreiros) até à concretização do concerto?
I.D. – São coisas distintas embora possa acontecer. É claro que houve casos em que isso aconteceu como com os "Clã" e os "Ornatos Violeta" mas não por ele estar na "Chave do Som" e eu ser agente deles. O Mário é o Mário e há músicos que preferem trabalhar com ele, mas outros há que elegem outros produtores. De qualquer forma não nos apresentamos como produto único e indissociável.
XM – Só temos mais uma questão para lhe fazer antes de terminar. Qual é a melhor altura para um grupo se apresentar à "Chave do Som"? Logo no seu início ou quando já tiverem algumas provas dadas?
I.D. – Bem... se já tiver provas dadas... Eu já tive aqui vários grupos que já tinham provas dadas. Por exemplo, no caso do David Fonseca que esteve comigo durante algum tempo..., só que tendo eu recusado ser manager e ele tendo arranjado um manager que tinha uma agência, não fazia muito sentido... Na altura eu estava a fazer o management dos Clã, não me ficando mais tempo para este tipo de trabalho, porque um manager tem que estar a tempo inteiro. Ao fim de semana, à semana, a qualquer hora... Tem que estar disponível. O manager tem que estar em todas. Gere a carreira, negoceia com as editoras, enquanto a agência "arranja" concertos, vende concertos, é o Booking do artista. É certo que cá em Portugal são poucos aqueles que não fazem as duas coisas. A agência pega portanto nas fotos, na imagem e nos valores que o manager estipula com os músicos e vende o produto. É evidente que, quando não há um manager, a agência acaba por fazer parte desse trabalho como fazemos no caso da emmy Curl.
Quando aparece aqui um projeto já rodado e com provas dadas, vem, normalmente, porque está com poucos concertos e aí temos que analisar para ver porque é que isto acontece. Se é por causa dos valores monetários, se se deve ao facto de não ter disco novo há muito tempo No caso de projetos novos, ou mais pequenos, que venham cá apresentar-se, espero sempre que seja algo que tenha uma voz própria, como acontece por exemplo com a emmy Curl. Há muita gente a tocar e a cantar bem mas é preciso mais do que isso. É preciso que haja um universo original, próprio e identificador do projeto. É isto que me alicia para trabalhar com um projeto, com um artista. Mas... muito francamente, eu não tenho tempo para ouvir muitas das coisas que me enviam... não tenho... é impossível! Já ouve casos de bandas que vieram cá bater à porta e que eu não pude ouvir e foram crescer para outro lado... e que eu perco a oportunidade ao não ouvir. O principal, quando eu pego numa banda, é eu ver se tenho tempo para a trabalhar, não é ter mais um nome e depois apresentar aquilo tudo junto num tabuleiro dizendo: "está aqui, agora escolham...". Cada projeto nosso é trabalhado isoladamente como peça única que é, e isso requer muito tempo. O dinheiro é uma coisa que só vem depois... pois há um investimento, não só de tempo, que custa dinheiro à estrutura, como há outros investimentos financeiros como fazer cartazes, organizar uma tour, que por vezes funciona "à bilheteira", requisitar e alugar salas, contratar alguém para fazer promoção... Há um sem fim de áreas que funcionam em simultâneo quando se planeia algo e o dinheiro é uma coisa que se recupera quando se acredita que o artista tem carreira. É uma aposta que eu não sei se vai ser ganha ou não. Por isso é que é importante que eu acredite no artista e na sua seriedade para que me possa entregar neste investimento a longo prazo.
XM – Isabel, mais uma vez agradecemos ter aceitado receber-nos aqui na Chave do Som. Há projetos novos que deseje abraçar ou que já se perfilem no horizonte desta empresa?
I.D. – Em breve poderão surgir novidades mas para já não temos nada na calha. Vamos apostar mais no nosso site www.chavedosom.com, agora que temos cá o Rui e ele percebe também muito destas coisas.
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