O guitarrista João Luzio vem ao XpressingMusic falar do seu trabalho discográfico “Moods and Colors”.

João LuzioJoão Luzio nasceu em Paris e, certamente não estará dissociado desse facto o romantismo e a paixão que transparecem dos trabalhos que realiza. Nesta entrevista falaremos um pouco da vida e obra deste jovem e, claro, do seu trabalho "Moods and Colors". Este primeiro álbum a solo de João Luzio conta com a participação de vários músicos tais como Vicky Marques na bateria, Massimo Cavalli no baixo e a participação especial de Fábio Ramos (bateria), Pedro Castro (baixo) e Rui Silva (teclados) num dos temas.

XpressingMusic (XM) – Agradecendo obviamente ter aceitado o nosso convite para esta entrevista, gostaríamos de iniciar a mesma perguntando-lhe se se recorda de como nasceu o seu gosto pela música e nomeadamente pela guitarra elétrica... Lembra-se da idade que tinha? É verdade que a música sempre esteve muito presente no seio da sua família?

João Luzio (J.L.) – Em primeiro lugar, deixe-me retribuir-vos o agradecimento, fico muito grato por me terem concedido esta oportunidade.
É verdade que a Música esteve sempre muito presente na minha família. Em casa, cada pessoa ouvia um estilo de Música diferente e inconscientemente fui absorvendo bastante por aí desde pequeno. Acabei por começar a tocar porque o meu pai tinha uma guitarra clássica em casa e ensinou-me algumas melodias que ele tinha tirado de ouvido. Continuei sempre a tocar estas poucas melodias na guitarra mas só foi mais tarde, depois de me mudar para Portugal e entrar na adolescência que me apercebi realmente da paixão que tinha pela guitarra. Devia ter uns 13 anos quando um amigo meu me introduziu a música alternativa e percebi que a podia tocar numa guitarra. Fiquei agarrado. Quando esse mesmo amigo comprou uma guitarra eléctrica e um amplificador e me deixou experimentá-los, percebi que era o que queria fazer. Acabei por comprar a minha primeira guitarra aos 15 anos e para falar verdade, não a larguei mais.

XM – Com uma ligação tão forte à música, como surge aos 18 anos de idade o ingresso no ensino superior num curso de engenharia civil? Era outra paixão sua?João Luzio

J.L. – A escolha de engenharia civil foi um processo longo e um tanto quanto complicado mas vou tentar ser sucinto. Basicamente, desde criança que tenho uma paixão muito grande por matemática (que acaba por se reflectir ainda hoje na forma como encaro a Música) e lembro-me especificamente procurar um curso superior que tivesse muito cálculo. Gosto muito do processo de desmistificação e a matemática sempre me trouxe isso da mesma forma que a Música. Enquanto a Música desmistificava-se de forma mais "abstrata" com sons e percebendo que som ficava bem em que contexto, a matemática trazia-me o mesmo sentimento mas num ponto de vista mais racional e científico.
Vou ser honesto, quanto mais o curso avançava, mais me sentia um pouco distante dos meus colegas que gostavam cada vez mais de engenharia mas eu na verdade gostava cada vez mais de compor e tocar. Tentei dar o meu melhor para continuar a fazer as duas coisas e não perder a motivação nem a oportunidade de acabar um curso superior. Foi quando acabei de estudar e ia de facto começar a exercer que percebi que, se queria mesmo ser dedicado, teria de fazer uma escolha e dedicar-me por completo uma delas. Escolhi sem hesitar a Música. Comecei a dar aulas de Guitarra numa escola em Chaves e assim as coisas foram acontecendo.
Mas para ser franco, mesmo hoje não exercendo, em retrospetiva, fico muito grato por ter concluído o meu curso, pois a sensação de realização é boa e a verdade é que aprendi imenso durante o processo, não apenas sobre engenharia em si mas também sobre disciplina e rigor. E por muito que à primeira vista a ciência "exata e fria" da engenharia possa parecer muito distante da arte, podem ter mais a ver uma com a outra do que parece.

XM – Ser convidado para participar na compilação de Guitarristas Portugueses "Guitars from Nowhere" em 2010, deve ter sido para o João uma grande honra... Concorda? Algo mudou na sua vida a partir deste convite?

J.L. – Sim. Concordo perfeitamente. Foi uma grande honra. Senti-me como uma criança a ser convidada para se juntar ao grupo dos mais crescidos por um bocadinho. Pois não só estão nesse disco pessoas que já na altura admirava (e ainda hoje admiro) como criei muito boas amizades com algumas delas. Fico muito grato por isso.
Quanto ao facto de mudar algo na minha vida... É de facto muito agradável ser convidado para participar num trabalho destes pois foi o primeiro trabalho discográfico no qual me envolvi e estarmos com uma faixa nossa num disco ao lado de tanta gente que se admira é muito bom.
Mas, na verdade, este disco foi um excelente incentivo. Deu-me forças para continuar a trabalhar e realizar os meus sonhos. Os que tinha e os que continuo a ter. Fico muito grato por ter tido esta oportunidade. E neste contexto quero deixar um forte abraço e agradecimento ao Alexandre Caetano que foi um pilar essencial à realização desta coletânea.

XM – Sabemos que tem uma vida muito preenchida pois para além de tocar, ainda ensina e efetua transcrições. Como gere o seu tempo entre todas estas atividades?

J.L. – Gerir o tempo, por vezes, pode ser um tarefa um tanto quanto complicada mas o segredo é que tudo o que nos rodeia se baseia em tomar uma decisão. O importante será tentar focar essa decisão para aquilo que realmente é importante para nós e para o que gostamos de fazer. Por vezes até pode ser surpreendente ver o tempo que conseguimos arranjar para o nosso trabalho e que estava a ser desaproveitado.
Mas de facto não é segredo que não se pode fazer tudo e tive de entender que é por vezes necessário "sacrificar" pequenas coisas na vida para dar lugar a outras. A palavra sacrificar pode parecer radical mas na verdade, o bom disto é que se gostarmos mesmo do que fazemos, o que deixamos de lado não é sacrificado porque dá lugar a algo melhor para nós. Vai dar lugar à realização dos nossos sonhos e à satisfação pessoal. E quando queremos mesmo, conseguimos arranjar tempo.

João LuzioXM – Conjuntamente com o Rafael André foi convidado a integrar as produções de Office Film Store com o objetivo de criar bandas sonoras para documentários. Este é outro dos trabalhos que gosta de fazer?

J.L. – Sim. Sem dúvida que tem sido uma experiência fantástica pois permite-me estar ligado à composição musical (com o Rafael) mas é um processo um tanto quanto diferente daquele ao que estou habituado. Estou de facto mais habituado a ouvir, gravar ou compor conforme o que o sentido auditivo pede. Neste tipo de situação o som está ligado à imagem e o sincronismo e ritmo que devem existir entre esses dois planos é muito interessante de trabalhar. Aprendi imenso e espero poder continuar a aprender.
Para além disso, a equipa tem sido fantástica connosco. É sempre bom estar rodeado de pessoas experientes e com as quais podemos aprender cada vez mais. Um forte agradecimento ao Miguel Bretiano, Vasco Crespo e Maria Eça por nos terem incluído no documentário "Doze" que já tem vindo a ser premiado internacionalmente.

XM – O seu Disco "Moods and Colors" reflete a alma do João Luzio e a sua versatilidade enquanto músico? Quantos anos de composição e experiências estão contemplados nesta sua obra?

J.L. – Parece-me que sim, reflete. É claro que estou numa posição suspeita para dizer isto mas se juntarmos as faixas todas que estão no disco acho que se pode ter uma ideia global do tipo de Música que gosto de tocar, dos meus gostos técnicos, composicionais e de quem sou.
"Moods and Colors" segue a ideia de que em vários momentos da vida temos todos nós experiências marcantes. Por vezes melhores, outras vezes menos boas. Todos os temas representam momentos específicos da minha vida nos últimos anos e para me lembrar deles, decidi dar às faixas nomes dos humores ou cores que associei a estes episódios.
Neste disco estão coleccionados temas cujo mais antigo deve datar de 2005 creio eu. Ou até antes. Mas é para mim interessante ouvir os temas que foram escritos em várias alturas da minha vida e perceber em que sentido a minha forma de tocar ou compor foi mudando.
Mas confesso que uma das vantagens de ter um álbum deste género é essencialmente não haver limites. Temos a completa liberdade de sermos nós mesmos, e isso é muito bom e libertador.

João Luzio - Moods and ColorsXM – Este disco não é um produto do seu isolamento, pelo contrário... Considerou importante o facto de ter ao seu lado neste trabalho nomes como os de Massimo Cavalli e Vicky Marques?

J.L. – Sim. Sem dúvida. Gosto muito de compor e admito que gosto de escrever as partes para todos os instrumentos. No entanto, ao fazer isso estou a viver apenas em torno da minha forma de interpretar Música e da minha forma de ser e tocar.
Gosto disso mas, na verdade, ao convidar músicos tais como o Massimo e o Vicky, não só aprendo imenso com eles como ganho uma nova perspetiva de composição. E, parecendo-me ser o elemento mais importante, a Música tem um novo respirar trazido pelas personalidades deles.
Cada vez mais vivemos numa era em que tudo se torna eletrónico e automático. E confesso que por motivos essencialmente financeiros, tenho de, por vezes, saber recorrer a essas tecnologias. Mas no que toca ao meu gosto pessoal, a verdadeira magia está em tocar com pessoas e para pessoas. Gostava de poder, cada vez mais, aproximar-me desse conceito. Daí ter convidado Músicos tais como o Massimo e o Vicky.

XM – Poderá partilhar com os nossos leitores e seguidores os nomes que compõem a sua banda ao vivo?

J.L. – Com toda a certeza. Neste momento estou a tocar com o João Colaço na bateria (www.joaocolaco.com) e o Massimo Cavalli (www.massimocavalli.com) no Baixo. Está a ser muito bom porque tenho a oportunidade de tocar e aprender com estes dois músicos e pessoas que têm desenvolvido um papel importante na existência deste projeto. Fico muito grato por isso. Um agradecimento e abraço a eles.

XM – E para o futuro? Novos projetos em mente?

João LuzioJ.L. – Confesso que existem vários projetos que andam na minha cabeça e que gostaria de vir a realizar nos próximos tempos. Estou neste momento a dar aulas na Academia de Guitarra em Algés (www.academiadeguitarra.pt) e continuamos a trabalhar em novos projetos com o Office Film Store.
Mas quero definitivamente produzir um segundo disco e ter oportunidade de tocar cada vez mais ao vivo. Estou a trabalhar para isso e espero poder revelar mais novidades a curto prazo.

XM – Mais uma vez agradecemos a amabilidade que teve para com a equipa do XpressingMusic. Quer deixar algum conselho para todos aqueles que também sonham um dia viver da música profissionalmente?

J.L. – Existe uma ideia que gostava de transmitir. O mais importante é gostarmos do que fazemos. Qualquer que seja a área profissional. No caso da Música, é importante gostarmos de Música e sentirmo-nos bem com o que sabemos, sermos honestos e trabalhadores sem alguma vez perder a vontade de aprender mais.
Refiro-me a este ponto porque na guitarra somos geralmente bastante "gananciosos" com o que aprendemos. Queremos aprender a tocar tudo, saber tudo, todas as técnicas e todas as músicas de que gostamos. E a verdade é que se colocarmos essa pressão na nossa aprendizagem, vamos viver muito insatisfeitos e até pode levar a perder algum daquele gosto genuíno que nos fez apaixonar pela guitarra em primeiro lugar.
Se gostarem de Música, aconselho a ouvirem muita Música, tocarem vários estilos, saírem para ver e ouvir Música a ser tocada ao vivo e conhecerem pessoas experientes que as possam encaminhar. Percebam que, em momento algum, viver da Música pode ser encarado como uma competição. Estamos todos a lutar pelo mesmo e construímos mais juntos do que uns contra os outros.
Para finalizar, eu é que agradeço a oportunidade ao XpressingMusic de poder partilhar estas ideias com os seus leitores. Muito Obrigado e Felicidades.

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